Cleber Odorizzi

Formado pela Associação de Sommelier de SC, o especialista fala do mundo dos vinhos, trazendo curiosidades, formas de cultivo de uvas e outras tendências.

Mitos e verdades sobre o mundo dos vinhos

Uma bebida tradicional e cheia de história, o vinho desperta curiosidades e dúvidas.

Foto: Divulgação

 

 

Por ser uma das bebidas mais antigas da história, não é de se estranhar que, ao longo dos séculos, tenham surgido teorias sobre o vinho que nem sempre condizem com a realidade. Com o objetivo de desmitificar alguns mitos, selecionamos algumas das principais dúvidas sobre o mundo dos vinhos.

 

Embalagem indica qualidade?

Obviamente que a resposta é negativa. Embalagem jamais indicará a qualidade do vinho. Rótulo por si só, não diz sobre a qualidade.

 

Em relação a garrafa, temos duas situações: o fundo e o peso da garrafa.

 

Fundo da garrafa é uma das maiores mentiras sobre o mundo do vinho. A criação dessa teoria vem da produção de vinhos de guardas. Antigamente se deixava o fundo mais espeço para que as garrafas não quebrassem no empilhamento. Nunca foi indicativo do vinho ser bom.

 

Em relação ao peso, apenas se ressalta que para alguns vinhos premiados, é natural que o produtor invista um pouco mais no produto. Isso permite justificar o preço e, eventualmente, separar o vinho mais simples do complexo.

 

Para nós consumidores, apenas conhecendo o produto para dizer se é ou não de qualidade. Comprar pelo rótulo em geral, é um erro.

 

Rolha de cortiça ou screw cap (tampa-rosca)?

Indiferente. Ambos são excelentes para vedação do vinho em relação ao oxigênio. Screw cap, jamais será demérito. Aliás, a tendência mundial é a sua utilização para vinhos mais novos. Austrália, Nova Zelândia e outros do novo mundo se utilizam da tampa-rosca quase na sua totalidade para vinhos novos.

 

Atualmente, a rolha de cortiça somente faz sentido para vinhos de guarda. E, mesmo nestas hipóteses, ainda é interessante fazer a troca das rolhas de tempos em tempos, evitando que o produto estrague.

 

Tocando nesse assunto, boa parte dos vinhos defeituosos advém da falta de cuidado com a rolha de cortiça. E isso não acontece com o screw cap. Já se tem testes, por exemplo, de vinhos com 20 anos de guarda, que mantiveram a sua qualidade intacta utilizando a tampa-rosca. Obviamente que ainda não há estudos com maiores datas, já que se trata de uma nova tecnologia.

 

Portanto, sendo rolha ou tampa-rosca, a qualidade será a mesma.

 

Vinho seco é melhor?

Notadamente que não. Há excelentes vinhos doces, fortificados (Jerez, Porto, Madeira), suaves e espumantes doces. Incorre em grande erro quem alega que vinho doce possui baixa qualidade.

 

Os métodos para conseguir esse tipo de produto (botritizados, passificados, fortificados, icewine), são impressionantes e demandam muito cuidado.

 

Quanto mais álcool, melhor?

O vinho é medido pelo conjunto de fatores e o álcool é apenas um deles.

 

Essa ideia vem da nossa legislação que classifica o vinho como sendo nobre àquele entre 14,1 e 16%. De modo geral é um equívoco, pois há grandes vinhos no mundo que possuem teor alcoólico entre 7% a 11%, abaixo da média geral.

 

Obviamente que fatores externos precisam ser considerados. Tomando como base o clima da Serra Gaúcha, quanto mais calor, maior o amadurecimento da fruta, resultando em vinhos mais alcoólicos e melhores. Em climas úmidos e frios, haverá menos amadurecimento e por consequência, menos açúcar, resultando em menos álcool. No entanto, outros fatores para o produto também serão diferentes, resultando outra qualidade.

 

Por isso no Brasil vivemos muito à espera das grandes safras, como foi em 2018 e 2020. Argentina, por exemplo, tem estações muito mais definidas, sem muitas alterações. Lá, geralmente a qualidade se mantém parecida de safra a safra. Aqui, é preciso trabalhar um pouco mais as técnicas enológicas.

 

Regiões mais secas e quentes são melhores para vinhos?

Não. Laguedoc, na França, um dos lugares mais secos é a região vinícola menos valorizada no país. Terra dos vinhos baratos. Muitos desses, vendidos no Brasil.

 

O interessante é que nas regiões mais úmidas e chuvosas na França, os vinhos são mais valorizados. Portanto, não é possível se limitar ao clima e ao estilo.

 

Vinhos bons só são de lugares tradicionais?

Muito pelo contrário. A história do mundo dos vinhos pelos principais países produtores, não excluem a belíssima qualidade das vinícolas do novo mundo (Argentina, Chile, Brasil, África, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos). Acreditar que apenas vinhos do Velho Mundo (Portugal, Itália, França, etc) são melhores, é incorrer em um grande erro.

 

Quanto mais aromas descrever de um vinho melhor é o degustador?

Já está consagrado no mundo do vinho que isso é uma mentira.

 

Pouquíssimas pessoas conseguem definir de maneira exata mais do que três aromas. A indicação de mais aromas geralmente compõe a mesma família. Frutas negras, por exemplo, possuem várias. Frutas tropicais, outras.

 

Então, seja enófilo ou sommelier, o ideal é não passar vergonha buscando inventar aromas. Muito menos, acertar a uva. Se para esta última tarefa pouquíssimas pessoas no mundo conseguem, não há sentido buscar adivinhar. Vinho se prova pelo que se está à frente. Sem rodeios. Simples e fácil.