Cleber Odorizzi

Formado pela Associação de Sommelier de SC, o especialista fala do mundo dos vinhos, trazendo curiosidades, formas de cultivo de uvas e outras tendências.

Por que alguns vinhos são tão caros?

Alguns vinhos podem ultrapassar valores astronômicos que na maioria das vezes, são resultados de fatores como marca, legado e a lei da demanda e da oferta.

Foto: Divulgação

 

 

Marca, legado e mercado. Talvez estes três pontos transformem o vinho extremamente raro e, principalmente, caro. Nem sempre as questões enológicas podem ser atributos do vinho, mas certamente o seu conteúdo histórico é fator fundamental. Não por menos, já que o vinho é consumido desde a antiguidade e é considerado a bebida mais consumida no mundo. Há quem diga que sua produção já possui registros datados de meados de 6000 a.C, o que realmente é impressionante.

 

Todo esse caminho percorrido permite que vinhos cheguem a preços de mais de R$ 150 mil em apenas uma garrafa. E o mais curioso disso tudo, é que é extremamente normal encontrarmos produtos nesse seguimento. Muitos compradores se cadastram em vinícolas para adquirir alguns pouquíssimos rótulos. Vinhos raros e de safras fantásticas, rendem muitos esforços dos amantes dos vinhos.

 

Um conjunto de fatores transforma um vinho simples em um vinho extremamente complexo e único. Para se ter uma ideia os processos de vinificação são complexos e exigem uma série de cuidados, como: plantio, manuseio, cuidado com as uvas, colheita (manual ou mecânica) e forma de armazenação. E quanto maior o cuidado e detalhe, maior será o valor agregado ao produto final. No meio disso tudo, temos ainda a soma de:

 

Vinhas velhas

As vinhas velhas potencializam alguns vinhos (alguns vinhedos podem chegar a 100 anos). A principal mudança é que a produção das uvas é menor, mas em contrapartida, a concentração de nutrientes é maior. Aliado a isso, produzir com vinhas velhas, é mais difícil e exige mais cuidado. Se disso resulta uma mudança, notadamente que o valor dado por um bom produtor, será diferente.

 

Terroir

É um termo francês utilizado para agregar diversos fatores da produção, como a região em que foi produzido, as condições climáticas, as propriedades geológicas e as uvas utilizadas.

 

Envelhecimento em barrica

É outro ponto importante a ser considerado, pois exige do enólogo muita atenção e percepção. A má utilização, pode levar de um bom produto, para descartável. Depois da fermentação, o estágio em barricas visa a maturação do produto. Algumas garrafas podem ficar meses neste processo, para que algumas substâncias da madeira possam ser transferidas. Isso agrega novos aromas, sabores e texturas. Esse conjunto acaba trazendo mais complexidade ao vinho.

 

Custo da embalagem

No preço agregado, acredita-se que é o que menos interfira nos grandes vinhos. Este fator importa mais para os vinhos simples do dia a dia.

 

Menor número de garrafas produzidas

Sem muito mistério, esse é outro fator que encarece o produto. Isso separa os vinhos comerciais produzidos em grandes quantidades, com processos industriais, daqueles com métodos mais cuidadosos como colheita à mão e prensagem em quantidades limitadas, por exemplo.

 

Safra

Nem todas as safras mantêm o mesmo padrão de qualidade e isso interfere ligeiramente na elevação dos preços. A título de exemplo, no Brasil, temos uma das grandes safras em 2018 e a chamada “safra das safras”, em 2020. Isso permite ao apreciador escolher o produto com maior chance de êxito, principalmente quando o desejo é buscar um vinho de guarda.  Uma boa safra, com boa vinificação resultará em um produto mais caro.

 

Vinícolas premium

Talvez uma das causas mais importantes é considerar a história da vinícola. O conjunto disso torna algumas delas muitos especiais. Seja por nome ou marketing, isso impacta diretamente no custo do produto. Como todo negócio, é natural que vinícolas famosas tendem a ter seus produtos com valores agregados. Afinal de contas, já passaram por diversos erros e acertos. Somado a isso, as mais conceituadas, geralmente estão em lugares certos e tradicionais para a produção, denotando a expertise do negócio e a sensibilidade para a produção.

 

Crítica especializada

Por fim, como uma das últimas razões, incluímos as opiniões de grandes conhecedores do vinho e guias especializados. Como recomendação, indico a leitura do Guia Descorchados que já é consolidado nas avaliações de rótulos da Argentina, Chile, Uruguai e Brasil. Na edição de 2022 foram mais de 4.000 vinhos degustados de mais de 230 vinícolas argentinas, 223 chilenas, 35 vinícolas uruguaias e 35 brasileiras. Essas avaliações muitas vezes estão presentes nas garradas com a indicação de pontuação, que funcionam da seguinte maneira:

 

a) 50 a 59: vinho é falho e impróprio para consumo;

b) 60 a 69: vinho é falho e não recomendado, mas é possível beber;

c) 70 a 79: vinho é falho e tem gosto “médio”;

d) 80 a 84: vinho é “acima da média” a “bom”;

e) 85 a 89: vinho é “bom” a “muito bom”;

f) 90 a 94: vinho é “superior” a “excepcional”;

g) 95 a 100: vinho ícone ou “clássico”.

 

Para alguns críticos, no entanto, vinhos com notas inferiores a 80 pontos sequer têm suas análises divulgadas. Tudo isso faz com que aumente a escassez e o produto seja elevado.