Cleber Odorizzi

Formado pela Associação de Sommelier de SC, o especialista fala do mundo dos vinhos, trazendo curiosidades, formas de cultivo de uvas e outras tendências.

Vinho e um quê a mais

A experiência de beber um vinho, não está subordinada ao preço, mas na falta de trocar escolhas.

 

 

 

Iniciando uma nova experiência, começarei a escrever sobre o nosso queridinho e tão superestimado vinho. E para isso, para que o sentimento possa representar uma poesia, nada mais arrebatador do que estar degustando um belo vinho.

 

Hoje a escolha levou em consideração o clima de 25º e o horário – pouco mais de 14 horas. Também não poderia ser diferente a escolha do rótulo. Para a primeira coluna, vamos começar com um vinho da Vinícola Casa Valduga, ERA, um Chardonnay de colheita manual (2021), com seleção de parcela do vinhedo.

 

Uma escolha selecionadíssima para o dia de hoje. Ao final, deixarei a minha impressão e avaliação técnica, a fim de possibilitar a você, querido leitor, uma boa sensação e, melhor do que isso, direcionar na escolha do seu produto e harmonização.

 

Falar de vinho é um pouco disso, sentimento na escrita e descrição de cada momento. Então se segura vivente e tenha calma.

 

Não é de hoje que beber vinho é tido como sinônimo de status. Bobo, na verdade. Enquanto em outros países a bebida é apreciada com mais naturalidade, um alimento funcional, no nosso país, ainda poucos tem o hábito de consumi-lo. No entanto, o crescimento é contínuo, tanto no consumo, como na produção. Ah! A nossa produção… maravilhosa, encantadora, cheia de vida e dedicação. O Brasil encontra-se entre os 15 maiores produtores do mundo, competindo ao lado de grandes ícones mundiais.

 

Tenho a convicção que o baixo consumo não se trata somente pelo preço, pois, possuímos muitos vinhos abaixo de R$ 50,00 (de vários países, inclusive). Enquanto alguns dão preferência ao vinho colonial, deixam de se arriscar naqueles que são produzidos com uvas viníferas, ou seja, própria para vinho.

 

O vinho de mesa (colonial, conhecido como garrafão) não é feito com uvas próprias para a produção de vinho. Geralmente americanas, são destinadas, exclusivamente, para a produção de suco. Isso mesmo, suco. No Brasil, infelizmente, a grande produção ainda vem dessas uvas, enquanto no lado inverso, outros países se dedicam na exploração correta das frutas.

 

O vinho deve ser produzido com uvas vitis-viníferas (vinhos finos), que são menores, possuem semente e são mais doces.

 

Talvez o vinho de mesa mais conhecido no Planalto Norte catarinense, seja a Uva Bordô que, indiscutivelmente, no paladar representa aromas e sensações incorretas para representativo de um bom vinho. Para entender a diferença, basta compará-lo a vinho tinto fino (malbec, cabernet, Syrah) com um vinho de mesa. A percepção será mais clara até para o iniciante.

 

A experiência de beber um vinho, não está subordinada ao preço, mas na falta de trocar escolhas. Altere a sua vivência e faça, além do seu gosto pessoal, escolhas pensadas também na degustação. Inicie. Arrisque.

 

E se ainda preferir beber vinho de mesa, beba-o jovem. Não são produtos destinados à guarda.  Não cometa o erro de acreditar que o deixando de 5, 10 ou mais anos, vai melhorá-lo. Efeito inverso. Todas as características nele são expressivas, cor, aroma e sabor. O que para um sommelier, representa desequilíbrio.  Aliás, para a degustação, como vinho defeituoso.

 

Em relação ao vinho de mesa suave, indicaria a experiência de trocá-los para vinhos finos licorosos ou de sobremesa, como o do Porto, Madeira, Jerez, que não contêm adição de açúcar, sendo próprio da maturação. Dificilmente será encontrado um vinho de mesa suave, sem adição de açúcar.

 

Observe, caro leitor, que não se trata de uma crítica ao produto, mas sim uma recomendação de alternância e inovação das suas experiências. Sendo audacioso, uma linda e encantadora paixão.

 

Se de um lado se diga que vinho bom é àquele que você gosta, essa afirmação não pode ser atribuída para degustação. E isso é inegociável. Beber para descontração, não exige avaliação. A degustação, sim. E nela é que o sentimento vem a mesa, a alma se liberta. Permita-se a conhecer novos rótulos.

 

Por fim, como combinado, vamos a nossa primeira avaliação técnica do nosso vinho degustado:

 

1) Visual: vinho branco e tranquilo, límpido, transparente, brilhante, baixa intensidade, lágrimas finas e fluídas, amarelo com tons esverdeais, jovem e sem evolução;

 

2) Aroma: franco e intenso, sem defeitos, frutas-tropicais, com lembrança de melão, pera e maçãs, predominância na fruta; lembrança de especiarias doces, como a baunilha, álcool equilibrado;

 

3) Degustativo: boa representatividade na acidez, refrescante, seco, taninos finos e macios, álcool equilibrado, ótimo corpo, untuoso, sem amargor, com boa persistência aromática, sem retro-olfato.

 

Para harmonização, recomenda-se queijos cremosos para entrada (evitar queijos mais duros que passaram por períodos longos de maturação, como parmesão). Acompanha boas pizzas de queijo, marguerita e napolitana (evitar àquelas que contenham carnes pesadas). Em relação a peixes e frutos do mar, com a presença e a inclusão de manteiga na receita. Molhos para acompanhamento, apenas os leves e brancos.