Jéssica Machado

A psicóloga aborda saúde mental, autoestima, autoconhecimento, sexualidade e amor próprio.

Felicidade em comprimidos

Estamos viciados na felicidade artificial e esperamos a cura para todo o mal que nós próprios criamos.

Foto: Divulgação

 

 

Vinícius de Moraes e Tom Jobim já diziam: “Tristeza não tem fim, felicidade sim.”. Mas não há problema, a indústria farmacêutica já vem cuidando dessa questão, revolucionando a vida dos tristonhos e desanimados com remédios para depressão, ansiedade e tudo mais que te incomode. Ah, a tão almejada felicidade agora vem em pequenas doses e em forma de comprimidos!

 

Esta é uma geração mimada e imediatista que tudo deve ser solucionado “pra ontem”, quer tudo da maneira que deseja, quer evitar o sofrimento a qualquer preço. Ela foi criada por uma sociedade que supervaloriza o sucesso, a revolução tecnológica e a felicidade estampada nas redes sociais. Ela é artificialmente feliz. Acontece que essa geração não aguentou e finalmente adoeceu.

 

Para tratar de todas as enfermidades, geralmente psicossomáticas (que têm origem psicológica) dessa geração, são prescritos cada vez mais medicamentos para suportar mais um dia de trabalho sem motivação ao invés de se procurar a causa do problema. Não se aceita a dor. Aliás, falar sobre o sofrimento para um psicólogo é justamente afirmar que se tem uma tristeza; e isso é inadmissível na nossa sociedade feliz. O filme “Geração Prozac” ilustra bem essa geração.

 

O medicamento pretende melhorar a qualidade de vida das pessoas que estejam com algum grau de sofrimento, seja físico ou psíquico. No entanto, atualmente, percebe-se o uso indiscriminado dos remédios para manutenção da saúde, ainda que não sejam necessários. Ocorre a mecanização da vida e a automatização dos sentimentos. Para lidar com o luto pela perda de um ente querido, receita-se um antidepressivo pela urgência de voltar a ser feliz socialmente.

 

Enquanto a indústria farmacêutica lucra com a venda da “felicidade em comprimidos”, se vive cada dia à espera de uma nova droga para a solução da ansiedade perante uma escolha de vida. Estamos viciados na felicidade artificial e esperamos a cura para todo o mal que nós próprios criamos. Precisamos urgentemente de uma reabilitação para aprendermos a lidar novamente com nossos próprios pensamentos e sentimentos, de modo a conseguirmos contradizer os pais da Bossa Nova naturalmente.