Educadores vencem desafios e reinventam ensino à distância

Sem a possibilidade de frequentar as salas de aula devido à pandemia de covid-19, novos desafios foram impostos para o dia a dia destes profissionais.

 

Desde março, todos os professores e alunos brasileiros tiveram que repensar e aprender uma outra forma de Educação. Sem a possibilidade de frequentar as salas de aula devido à pandemia de covid-19, novos desafios foram impostos para o dia a dia destes profissionais.

 

Para Jéssica, dar aula sem ter o contato dos alunos foi triste e solitário para ambos.

 

Segundo a professora da Escola Gustavo Friedrich, Jéssica Teixeira Witt, de 32 anos, a principal dificuldade foi adaptar o as aulas e o material e pensar em alternativas e estratégias para os alunos que não tinham acesso à internet.

 

“Utilizei muito as mídias sociais e gravei vídeos em plataformas como YouTube e Zoom. Para os alunos sem internet, adaptamos o material para que fosse de fácil compreensão, escrito de maneira simples e com muitas imagens”, conta.

 

Segundo Jéssica, dar aula sem ter o contato dos alunos foi triste e solitário para ambos. Entretanto, a participação dos alunos foi um ponto positivo. “Muitos em sala de aula não tinham voz ativa, não questionavam o professor quando precisavam, geralmente por vergonha. Nas aulas online, tiveram a oportunidade de conversar com o professor, tirar dúvidas, sem sentir essa vergonha”.

 

De acordo com Jéssica, apesar das dificuldades, o ensino à distância não prejudicou completamente a aprendizagem dos alunos. “Existem conteúdos de fácil assimilação e outros mais complexos, principalmente nessa modalidade de ensino. Mas de qualquer forma, em partes, houve aprendizado”, disse.

 

Falta de estrutura

Eliziane Wengrnovski Krachinski, de 27 anos, professora das Escolas Tenente Ary Rauen e Jovino Lima, precisou adquirir um computador e um celular melhor para poder trabalhar no formato não presencial. Segundo ela, as aulas foram planejadas de forma diferenciada, lúdica e com a participação da família.

 

“A maioria dos alunos fez as atividades de forma impressas, buscando a atividade na escola. Para os alunos do interior a escola levou até a localidade. Só não participou das atividades quem não teve interesse, pois a oportunidade foi ofertada de várias formas”, disse.

 

Para Liziane, o modelo de aulas à distância ainda é inviável para escolas públicas.

 

Segundo Liziane, o modelo de aulas à distância ainda é inviável para escolas públicas. “A escola não tem estrutura adequada, nem as famílias. Muitos não têm internet ou recursos tecnológicos. Para o momento foi muito válido. Tivemos grandes resultados com aqueles que se dedicaram. Mas no modelo presencial há muito mais resultado positivo. O ser humano precisa de contato com outras pessoas”.

 

Ainda de acordo com Liziane, estar longe dos alunos não foi fácil. “O contato com o aluno no presencial era desgastante, porém, sentia que meu trabalho estava sendo feito da melhor forma. Mesmo sem recursos. Os alunos retribuíam de forma positiva, com afeto ao nosso trabalho. No sistema online, esse contato é superficial”, revela.

 

Liziane também acredita que apesar do ensino diferenciado, o aprendizado não foi totalmente prejudicado. “Quem quis obteve conhecimento. Mesmo que esse modelo não presencial de aulas seja extremamente desgastante para a família e a escola, foi a melhor estratégia para o momento. O aprendizado recuperamos. A vida não”, completa.

 

A sala de aula é tudo na educação

A professora das escolas Maria Paula Feres, Tenente Ary Rauen e Barão de Antonina, Iona Kachimareck, de 43 anos, relata que a principal dificuldade do ensino à distância foi aprimorar os conteúdos para que fossem de fácil compreensão.

 

“Montamos um grupo no WhatsApp e enviamos mensagens de voz para esclarecer as dúvidas e ao mesmo tempo incentivar os alunos. Também criamos vídeos curtos e mantemos contato com os alunos e a família até mesmo nos finais de semana”, conta.

 

Segundo a professora, a participação nas aulas foi positiva e a plataforma de ensino oferecida pelo estado – Google Education – facilitou o processo de aprendizagem.

 

“Os alunos sem acesso à internet também tiveram uma boa participação com as atividades impressas disponibilizadas pela escola. Infelizmente, em alguns casos, o acesso às atividades foi dificultado devido à distância”, conta.

 

Para Ioná, foi difícil lidar com a saudade durante a pandemia.

 

Para Ioná, o ensino à distância e o uso da tecnologia ainda pode ser aprimorado e se tornar uma ferramenta muito importante para a educação, pois mantém o contato com o aluno, mesmo fora do ambiente escolar.

 

Apesar disso, Ioná acredita que as aulas presenciais são essenciais e revela o quanto foi difícil lidar com a saudade durante a pandemia. “Dar aula sem o contato dos alunos dá uma sensação de vazio, como se estivesse faltando alguma coisa, e realmente está. Receber mensagens dos alunos dizendo que estão com saudades, aperta o coração. A sala de aula é tudo na educação e a presença dos alunos e professores é extremamente importante”.

 

Ainda segundo a professora, a participação dos pais foi essencial para que o modelo de ensino à distância funcionasse. “Vi pais assíduos com a educação dos filhos fazendo o possível para ajudá-los. Esse vínculo da escola com os pais se faz necessário para que todo o processo educacional funcione”, finaliza.

 

A arte de se reinventar

A diretora da Escola Tenente Ary Rauen, Francine Amorim Fernandes, de 36 anos, conta que o ensino através das aulas remotas foi dificultado por conta do acesso à internet. Segundo a diretora, a escola atende 490 alunos, mas apenas 22 tinham computador com acesso à internet. A maioria utilizava a rede móvel do celular.

 

Por conta disso, a escola precisou se reinventar. “Oportunizamos a todos os alunos a possibilidade de buscar apostilas na escola, montamos grupos de Whatsapp e inserimos a plataforma Google Classroom. Ou seja, cada estudante optou pelo que melhor se adequou a sua realidade e ninguém ficou de fora”, conta.

 

Segundo Francine, a experiência da pandemia mostrou que não há computador no mundo que substitua os ensinamentos de um professor.

 

Ainda de acordo com a diretora, a escola manteve o compromisso com a educação e respeitou rigorosamente o calendário escolar. “Temos todo ano nossa corrida rústica que antes era presencial e desta vez fizemos de forma virtual. Realizamos também homenagens para o dia das mães, dos pais, dos professores, do estudante, da criança, tudo através da internet”, disse.

 

Para descontrair e tornar as aulas menos monótonas, a escola também criou concursos de casal caipira do ano, fantasias de Halloween, declamação de poesia, desenho e redação.

 

Segundo a diretora, tudo foi pensado para tornar as aulas mais dinâmicas e divertidas. A interação dos pais também foi importante para o processo de aprendizagem e diversas reuniões foram feitas para manter as ideias alinhadas.

 

“Realizamos uma live e tivemos uma boa participação dos pais e da comunidade. E agora, em dezembro, realizaremos outra live com temática natalina. Os alunos estão se superando e se preparando para que seja muito especial”, conta.

 

Segundo Francine, a experiência da pandemia mostrou que não há computador no mundo que substitua os ensinamentos de um professor. “Todos estão dando seu máximo para que consigamos superar este ano de desafios, mas a explicação, o olho no olho, o carinho e o envolvimento são primordiais para o sucesso na aprendizagem”, disse.

 

Apesar do aproveitamento, a diretora revela que a questão de conteúdo foi prejudicada em alguns pontos. “No ano que vem realizaremos aulas de reforço aos alunos que tiveram dificuldades. Porém, acredito que todos aprendemos muito, seja alunos, pais, professores e comunidade. Com a pandemia, podemos perceber a importância que tem um professor na vida de um aluno. É muito triste ver a escola vazia, sem vida”.