Entrevista com Carlos Alberto Kita Xavier, presidente do Crea/SC

“Queremos um Crea tecnológico, de ponta”

Foto: Divulgação/Crea/SC

 

Carlos Alberto Kita Xavier assumiu em 1º de janeiro a cadeira de presidente do Crea/SC, cumprindo o mandato que vai até 31 de dezembro de 2023. Esta é a terceira vez que ele estará à frente do conselho que reúne mais de 60 mil profissionais e tem 152 títulos registrados.

 

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Para este novo mandato, Kita Xavier tem dois propósitos claros:

 

1) Desenvolver o projeto da Universidade Corporativa, que junto com as instituições de ensino tem o propósito de contribuir para formação, depois na capacitação, e por fim no aperfeiçoamento dos profissionais do segmento;

 

2) Deixar o Crea apoiados na tecnologia, um conselho “sem papel” e de “ponta”, que possa continuar a ser uma referência nacional.

 

Radicado em Florianópolis desde os tempos da faculdade, Kita – como é mais conhecido – é natural de Erechim (RS) e tem 53 anos. É engenheiro civil e de Segurança do Trabalho, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, Kita Xavier fala sobre seus projetos e desafios a frente, mais uma vez do Crea/SC

 

Como será desenvolvido este projeto da Universidade Corporativa? Como ele será posto em prática e qual a finalidade?

A Universidade Corporativa começou a ser construída quando nós conversamos com o presidente da Acafe, o Reitor a Unochapecó, Claudio Alcides Jacoski. A ideia é focar no aperfeiçoamento de todos os profissionais da área. Mas, por ser uma Universidade Corporativa, a gente inicialmente pensa na formação dos nossos colaboradores. Nós temos, no Crea/SC, em torno de 40 inspetores, estamos em 30 unidades, 23 inspetorias, 7 escritórios e mais três postos de atendimento. Vamos focar na formação, depois na capacitação e, no terceiro momento, no aperfeiçoamento de todos os profissionais. Hoje são mais de 60 mil profissionais aqui no Crea/SC, são 152 títulos profissionais registrados, desde todas as engenharias, agrimensura, agronomia e as geociências, que vão da meteorologia, geologia, geografia, além dos técnicos de segurança no trabalho.

 

A Universidade Corporativa será uma espécie de especialização para os profissionais?

Eu entendo que os nossos profissionais hoje são referências, temos muitos profissionais aqui que desenvolvem projetos magníficos. Balneário Camboriú é um exemplo. São profissionais que fizeram especialização fora do país e que podem repassar esse conhecimento aos demais. A ideia é valorizar esses profissionais para que sejam especializados, aperfeiçoados para dar segurança e qualidade de vida para a sociedade. Além disso, nós temos a Resolução 1073 que amplia as atribuições profissionais. Por exemplo, eu sou engenheiro civil e fiz a segurança no trabalho que me deu novas atribuições. Isso pode ser desenvolvido na Universidade Corporativa.

 

Esse desenvolvimento profissional pode favorecer ainda mais a atuação dos profissionais?
O principal papel do Conselho é a fiscalização do setor. Queremos a presença de um profissional legalmente habilitado à frente de obras e serviços, para passar segurança para a sociedade. Queremos que a sociedade construa num local seguro. Na pandemia a gente escuta: “fique em casa”. Mas ficar em casa como? Que casa é essa? Estimulamos muito a engenharia pública, gratuita. Há uma lei federal onde as prefeituras podem receber recursos federais para atender a população de baixa renda. Florianópolis será uma das cidades símbolos e modelo para o estado. Nós estamos também fortalecendo os engenheiros sem fronteiras.

 

Como funciona essa atividade do engenheiro sem fronteira?
É uma atividade de voluntariado, bem a exemplo dos médicos sem fronteiras. Temos uma unidade em Florianópolis e outra em Joinville. Um exemplo foi uma ação de implantar pias públicas em comunidades carentes. O projeto uma mão lava as outras. A gente quer pegar esses dois pilotos que já são sucessos e jogar para o estado inteiro. Essa ação de voluntariado, de fazer o bem tem que ser estimulada.

 

O Crea tem a imagem de ser um órgão fiscalizado, mas não é só essa sua função?
Nós atuamos na fiscalização, e ninguém gosta de ser fiscalizado, mas nós também atuamos muito na orientação. O Crea/SC tem o dever de orientar a sociedade. A gente verifica as vezes que as pessoas perguntam: “O que faz o Crea?” e muitos acham que a gente fiscaliza, regulariza obras. Não. A gente não verifica a qualidade de obra e serviço. Nós apenas queremos que alguém que tenha o conhecimento possa dar o subsídio para que esse serviço de engenharia aconteça da melhor forma possível. A presença de um profissional legalmente habilitado é muito importante.

 

O Crea tem também um papel importante junto ao poder público?
O Crea tem que estar próximo das autarquias públicas, de prefeituras para, justamente onde estiver discussão técnica do nosso setor, que nós possamos participar, na orientação, sem cunho político. Hoje vivemos um momento muito polarizado, mas a gente vai estar presente com apoio técnico. Por exemplo, está acontecendo a discussão do Plano Diretor de Florianópolis e um dos nossos conselheiros participou dando a nossa opinião técnica.

 

O senhor acompanhou o que aconteceu na Lagoa da Conceição. Qual a sua opinião?
O que aconteceu foi basicamente em virtude das chuvas, mas se você for perguntar para os técnicos da Casan qual a vazão num dia normal, sem chuva, dentro uma estação de tratamento de esgoto; e qual a vazão num dia com chuva, pode ter certeza de que aumenta no mínimo 50%. Então, as ligações clandestinas, culpa nossa enquanto sociedade, têm uma contribuição muito grande para acarretar esse problema.

 

Qual seria uma solução para evitar este problema no futuro?
Aqui em Florianópolis nós temos um problema muito sério que se discute muito, mas que não se chega a uma solução. Acho que seria o momento de se apresentar propostas técnicas, viáveis e soluções para esse tipo de caso como o emissário submarino. É a grande solução. E nós não temos só essa bomba relógio ali da Lagoa, temos outras em várias partes do estado. Não é exclusividade de Florianópolis. A gente fez um manifesto apoiando os técnicos da Casan, mostrando que não foi feito nada de errado e, sim, houve uma sobrecarga extrema. Se tivéssemos um emissário funcionando poderíamos não ter vivido esse problema. E a população tem que entender que existe uma estação de tratamento de esgoto e vai sair a água tratada, clarificada. Essa água é limpa, não tem contaminantes. Não é esgoto jogado no mar.

 

Como o senhor pretende entregar o Crea/SC daqui a dois anos?
Queremos um trabalho muito forte na área tecnológica e de sustentabilidade. O Crea/SC tem que ser uma autarquia “Papel Zero”. Queremos entregar ferramentas para a sociedade e para os nossos profissionais para que possa aumentar a participação de todos. Queremos entregar um Crea/SC atualizado com as tecnologias. Um Crea/SC tecnológico. De ponta. Na nossa primeira gestão, transformamos o conselho em referência nacional, fomos considerados os mais eficientes e eficazes do Brasil. E quero retomar esse Crea/SC e ter novamente 93% de aprovação dos profissionais.