Entrevista: presidente da Fiesc defende fortalecimento da indústria em SC

Para auxiliar a indústria, ao longo desta gestão serão aplicados R$ 510 milhões em investimentos.

Foto: Divulgação

 

 

“Santa Catarina tem potencial para, em poucos anos, se tornar o estado mais industrializado do Brasil. Este é o objetivo da gestão que começa agora”, disse o presidente da Federação das Indústrias (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, no discurso de posse para o seu segundo mandato à frente da entidade, que vai até 2024.

 

Ao defender o fortalecimento da indústria na geração de riquezas, Aguiar explica que essa escolha ocorre por dois motivos. O primeiro é a oportunidade. SC possui empresários audaciosos e a indústria de transformação mais diversificada do Brasil. O outro é o desenvolvimento socioeconômico. Nenhum setor da economia colabora tanto para o crescimento quanto a indústria.

 

“Onde há indústria, há qualificação de trabalhadores, inovação, tecnologia, dinamismo e progresso”, afirma Aguiar. Para auxiliar a indústria, ao longo desta gestão serão aplicados R$ 510 milhões e a prioridade é a educação.

 

Horas antes da posse, Mário Aguiar concedeu entrevista coletiva onde mostrou sua visão sobre SC e traçou objetivos. Neste espaço estão destacadas suas opiniões.

 

Confira:

 

O senhor seguirá à frente da Fiesc por mais quatro anos. Qual sua visão sobre a economia de SC e o papel da Federação?

Nós estamos num pequeno estado que tem características muito próprias, inclusive topográficas que não tem dado a mesma situação quando se compara com estados do Sudeste ou do Centro-Oeste brasileiro, em que há uma predominância muito forte da agricultura. Santa Catarina tem uma economia muito dependente da indústria, com a maior diversidade industrial do país e isso, na nossa visão, dá um ganho muito forte para a nossa economia. Nós temos tradicionalmente um desempenho acima da média nacional por conta da pujança do empreendedorismo e da pujança da nossa indústria. Existe um fato que vem a confirmar o que as estatísticas comprovam: onde tem indústria, tem desenvolvimento e tem IDH mais elevado.

 

SC tem uma corrente voltada para o exterior, como vê esta característica?

Santa Catarina tem uma movimentação muito significativa, são mais de 20% de toda a movimentação de carga de contêiner. Nós movimentamos mais contêineres do que a Argentina. Nós somos uma plataforma logística fundamental para a economia nacional e temos que potencializar cada vez mais esta característica e isto está na proposta do nosso segundo mandato à frente da Fiesc. Perdemos, por exemplo, para o Amazonas em indústria de transformação por conta da zona franca de Manaus, que tem todos os benefícios fiscais. Mas somos o segundo estado em termos de indústria de transformação. Essa é a indústria que emprega, que gera impostos, que traz dividendos para o país.

 

Mas importamos mais que exportamos, por que isso?

 Se olharmos a nossa carteira de comércio exterior, verificamos que temos uma corrente de comércio negativa. Importamos mais do que exportamos, o que não é uma desvantagem, evidentemente. Nós importamos insumos, entregamos equipamentos, mas muito do que se exporta e muito do que se importa não é produzido aqui. Muitas vezes o maior produto na pauta de importação é a soja, que não é produzida aqui. E por que acontece isso: porque temos um sistema portuário altamente eficiente. Na área de importação, muitos produtos que entram por aqui não ficam no estado, como pneus, por exemplo. Eles não ficam aqui, mas entram por conta da eficiência dos nossos portos. Isso tudo favorece para que a gente tenha uma indústria forte, importante. Empresas que exportam são empresas que têm produtos mais competitivos e de qualidade. Quando olhamos para a pauta de importação e observamos os produtos manufaturados, olhamos o destino e invariavelmente são os Estados Unidos. Isso mostra o quanto somos competitivos, já que mandamos para um mercado bastante exigente.

 

Isso não exige mais mão de obra qualificada?

 Santa Catarina talvez seja o único estado que esteja em pleno emprego. E aí entra uma parcela importante do sistema Fiesc, com o Sesc e o Senai, que é a capacidade de capacitação de mão de obra. Nós estamos nos preparando através do Sesi e do Senai – do Sesi, na educação básica; e o Senai, na qualificação do trabalhador. E por conta disso estamos fazendo investimentos muito robustos  da ordem de R$ 510 milhões, que serão aplicados nos próximos quatro anos. Nós estamos em mais de 260 municípios, sabemos das nossas limitações, mas pretendemos melhorar a nossa atuação e atender cada vez mais essa demanda por mão de obra qualificada, até porque se fala na indústria 4.0.

 

A Fiesc lançou uma campanha para mostrar sua participação na sociedade. Como é esta campanha?

Estamos numa campanha de esclarecimento para toda a sociedade e para aqueles que nos mantém, que são as indústrias. O Sistema Fiesc, através das suas casas – Sesi, Senai e IEL – é uma instituição privada. Não há recursos de governos no nosso sistema. Todos os recursos que recebemos são privados. Há uma pequena parcela que acha que atuamos com recursos públicos, o que não é verdade. Por conta disso estamos nessa campanha que tem o objetivo de mostrar para a sociedade que tem “mais Fiesc na sua vida do que você imagina”. Quando você olha ao seu redor e vê produto manufaturado é porque de alguma forma há a participação da Fiesc.

 

O Governo estadual acenou com o repasse de recursos, a Alesc aprovou R$ 350 milhões para as BRs 470, 163 e 280 e passado mais de um mês nada aconteceu. Como o senhor vê esta questão?

O nosso sistema de transporte é inadequado, é preciso investimentos nas rodovias, mas temos também temos demanda de ferrovias. Com relação a essa disponibilização dos recursos desde o início da Fiesc se posicionou favorável, mas com uma sugestão: de que o governo federal apresentasse contrapartidas porque somos o sétimo estado que mais envia recursos para Brasília e somos o 24º em recebimento. Há um desequilíbrio. Não haveria razão para destinar recursos estaduais para obras federais, mas dada a importância, somos favoráveis. A nossa posição tem sido sempre de um olhar técnico. O DNIT nos disse que não haveria espaço neste ano para se colocar os R$ 200 milhões na BR-470. Essa discussão será objeto de uma reunião nesta terça-feira (17), que nós vamos participar.

 

A infraestrutura não é fundamental para a competitividade da economia?

Nós calculamos os custos logísticos a cada dois anos e verificamos que em Santa Catarina é mais elevado do que a média brasileira e quando comparamos com nosso maior comprador externo, que são os Estados Unidos, a defasagem é muito grande. Nosso custo logístico é da ordem de 14 centavos por real faturado, enquanto nos EUA é de 8 centavos por dólar faturado. Uma desvantagem considerável. Mas nós temos que fazer um trabalho que são os projetos de intermodalidades. Nós temos que ter uma visão macro da nossa logística de transporte. Já aplicamos mais de R$ 24 milhões em projetos de ferrovias e não temos essas ferrovias implantadas. O Paraná já fez isso e contratou uma empresa do Canadá. Nós já trouxemos para fazer este estudo o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, que fez toda a malha de transporte naquele país e em boa parte da Europa. Apresentamos isso ao governo anterior e até pagaríamos uma parte desse programa, mas não avançou. Agora, conversando com os secretários de estado, existe essa possibilidade. É importante que se tenha esta visão sistêmica e não uma visão por região.