Presidente da Celesc fala sobre os impactos da pandemia e do ciclone-bomba em SC

O presidente da Celesc, Clecio Poleto Martins, falou sobre os investimentos que a companhia está fazendo, como foi lidar com o ciclone e também sobre a distribuição dos lucros da empresa, que chegou a ser contestada por alguns setores.

O ano de 2020 tem sido de provação para muitos setores. A Centrais Elétricas de Santa de Santa Catarina além de ver sua arrecadação cair com a queda da demanda, puxada pela paralisação de diversas atividades nos setores produtivos, ainda enfrentou o pior acidente na rede elétrica já ocorrido no estado.

Mesmo assim a companhia tem anunciado investimentos significativos com a previsão novas subestações e com o lançamento, agora este ano, do programa Celesc Rural, que prevê a renovação do cabeamento que vai atender mais de 50% das famílias que vivem nas zonas rurais do estado.

Na entrevista dessa semana, a Coluna Pelo Estado conversa com o presidente da Celesc, Clecio Poleto Martins, que fala um pouco sobre os investimentos que a companhia está fazendo, como foi lidar com o ciclone e também sobre distribuição dos lucros da empresa, que chegou a ser contestada por alguns setores.

Além disso, Poleto informa que a companhia tem adotado medidas para minimizar os impactos causados pela pandemia e anuncia que os prejuízos contabilizados no período serão cobrados na tarifa do consumidor a partir de 2022, e serão pagos em cinco anos.

Recentemente a Celesc anunciou a continuidade do programa de melhorias da rede rural. Em que consiste o programa?
Ano passado, rodando pelo estado, nós percebemos quais são as principais demandas dos produtores rurais. A propriedade rural é uma mini-indústria. O Celesc Rural começou no ano passado e demoramos para lançar porque queríamos ver se o resultado era aquilo mesmo.. A primeira região atendida foi o Alto Vale, em Ituporanga. E o resultado é que o número de quedas reduziu muito e a confiabilidade na companhia aumentou 90% na região atendida.

O que fizemos foi substituir as redes nuas por redes protegidas, o que evita os desligamentos acidentais e garante a rede energizada. Em muitas localidades foi preciso colocar a rede trifásica também, pois havia essa necessidade de maior demanda da potência distribuída. Paralelo ,também estamos instalando religadores automáticos, que reenergizam a rede automaticamente., diminuindo muito o tempo de espera do cliente consumidor. Claro que quando temos uma queda de árvore ou de poste a interrupção mais longa vai ocorrer, mas ela é menor agora.

Não ter interrupção da rede. Esse é o objetivo. Se a pessoa tinha cinco quedas ao ano ela passou a ter uma queda. E o programa vai passar por todas as regiões.

Esse ano retomamos o programa e já investimos R$ 80 milhões só para redes e mais R$ 30 milhões serão aplicados nos religadores. Em agosto a previsão é investir mais R$ 40 milhões, totalizando R$ 151 milhões só nesta primeira etapa. Serão 135 mil proprietários rurais. O que significa que nós atenderemos quase 50% de toda a área rural do estado. e onde 90% são classificadas como de agricultura familiar.

O ciclone-bomba que passou pelo estado causou o maior acidente da história da rede de energia de SC. Como a companhia está lidando com os efeitos e quais são os prejuízos até agora?
Esse evento atingiu todo o estado. Ele chegou no Extremo-Oeste pela manhã e a gente identificou lá e começamos a monitorar e ver no painel, aqui em Florianópolis, onde a rede não estava energizada. O operador identificou e começou a passar a informação para quem estava em campo.
Nesse caso, como começou no Oeste e nós fomos acompanhando, ele foi abrindo braço pelo estado e tomando todas as regiões, quando chegou aqui na Capital houve também a queda da telecomunicação. Essa comunicação que tínhamos com os clientes e com os eletricistas também caiu. Nós acionamos o comitê de crise e naquele mesmo dia começamos a nos deslocar para as subestações e colocamos 1.300 homens em campo. Em cinco dias reenergizamos 1,5 milhão de unidades consumidoras.

A Celesc tem anunciado a construção de novas subestações pelo Estado. Temos demandas das comunidades em diversas regiões, como Itapemae na Grande Florianópolis. Quais as previsões para novas estruturas?

Só na distribuição de energia, ano passado, a gente fez investimentos que chegaram a R$ 360 milhões. Inauguramos cinco subestações, em Canoinhas, Brusque, Araquari, Florianópolis e São José, e outras estão em andamento.

Nós já adquirimos dez terrenos para as novas subestações. Usualmente se adquiria dois terrenos ao ano. Demos um foco total nessa área. Compramos sete e três estão em vias de fechar.

Em Itapema, a deputada Paulinha (PDT) fez u0m esforço com a prefeitura de Itapema e nós já temos o terreno disponível. Eu estive na região e agora falta licenciamento, licitação e obra. Em média, após termos o terreno, a expectativa é de que tudo fique pronto entre um ano e meio a dois anos. Nós também temos uma obra em andamento em Itajai, na subestação Salseiros 2, que e que vai atender também Itapema e Barra Velha.

Recentemente, na passagem do presidente pelo Estado, o governador Carlos Moisés (PSL) pediu a liberação de verba para cabeamento subterrâneo. Como a Celesc vê esse pedido?

A Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] é quem regula todos os investimentos. A Aneel fiscaliza se foi lançado como ativo regulatório e transformada em tarifa. E esses investimentos precisam ser aprovados para depois comporem parte da tarifa por cinco anos. Uma subestação que construímos é cobrada de todos os consumidores por cinco anos. Ocorre que a Agência não autoriza, salvo raros casos, os investimentos em cabos subterrâneos.

Essa é uma regra que vale para o todo o país, mas aqui em Santa Catarina, por exemplo, os tornados são mais frequentes, temos ocorrências de ventos fortes todos os anos. Mas se a Aneel não autoriza que isso seja feito na forma de investimento ele acaba sendo um custo para a empresa e não poderá compor a tarifa lá na frente.

O próprio presidente da república prometeu nos ajudar. O investimento em cabo subterrâneo pode ficar de quatro até 12 vezes mais caro, mas se faz necessário. Em um evento como esse do ciclone-bomba, se tivéssemos as principais linhas com cabeamento subterrâneo teríamos menos prejuízos e atuaríamos com mais agilidade no atendimento dos casos importantes.

Repercutiu negativamente a decisão da companhia em promover a distribuição dos lucros aos diretores ainda durante período da pandemia. Qual é a versão da empresa sobre esse assunto?
Nós fizemos todo um levantamento sobre a distribuição dos lucros e protocolamos no Tribunal de Contas e Ministério Público dando esclarecimento a todos os fatos. Não temos o que esconder sobre isso.

O pagamento da participação dos lucros existe desde 1984, na época era paga em forma de gratificação e em 2003 começou a ser distribuída na forma de lucros e resultados aos empregados. É uma forma de comentar os funcionários em troca de resultados. Há um contrato que é assinado com os acionistas que fica resultados e remunerações e que é assinado com o Conselho de Administração. Está no Estatuto Social e no Estatuto dos Acionistas.
Entre 2009 e 2019 foram pagos R$ 317 milhões só aos empregados pela participação nos lucros. Isso é bom para os trabalhadores da Celesc. Esse pagamento acontece usualmente em abril, mas esse ano nós adiamos por conta da pandemia por 90 dias, que também é o prazo máximo.

Mesmo assim a empresa contabiliza prejuízos com a queda da demanda durante a pandemia, principalmente por conta da redução no setor produtivo. Como está sendo esse enfrentamento?
O consumo caiu em média 12% daquilo que a gente já tinha previsto. E isso é muito, principalmente para a distribuidora. Nossos contratos são de agosto a julho, e 85% do que arrecadamos é repassado, outra parte vai para o estado em ICMS e 15% daquilo que a gente arrecada fica com a Celesc. Naturalmente vai ter queda na arrecadação, mas nossos repasses já estão comprometidos. Tomamos algumas ações em relação ao caixa da empresa. E também criamos a conta covid-19. Com isso, os prejuízos desse período começarão a ser cobrados em 2022 e em cinco anos, é uma tentativa de minimizar o impacto direto ao consumidor.