Pesquisadores desvendam taxas de crescimento e longevidade de dinossauro brasileiro

Pesquisa contou com apoio do pesquisador Luiz Carlos Weinschütz, do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado.

 

Os pesquisadores do Museu Nacional (UFRJ), Alexander Kellner, Arthur Brum, Geovane Souza, Juliana Sayão, Maria Elizabeth Zucolotto e Marina Soares, em parceria com o pesquisador Luiz Carlos Weinschütz, do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, apresentaram nesta terça-feira (15), dados sobre o crescimento ósseo da espécie de dinossauro brasileiro Vespersaurus paranaensis.

 

Vespersaurus é uma espécie de dinossauro de pequeno porte, com 1,50 m de comprimento que viveu durante o Cretáceo Superior (90-70 milhões), onde hoje é o município de Cruzeiro do Oeste, no noroeste do Paraná.

 

 

A qualidade excepcional de preservação e a grande quantidade de fósseis permitiram que fosse analisada uma quantidade expressiva de ossos, a maior amostragem histológica para um dinossauro brasileiro até o momento. Isso permitiu que os pesquisadores vislumbrassem um panorama mais completo e confiável sobre como esses animais se desenvolviam, qual eram suas taxas de crescimento e quanto tempo levavam para se tornarem adultos.

 

Segundo o geólogo Luiz Carlos Weinschütz, coordenador dos trabalhos de campo, nesta época, parte do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil formavam um grande deserto (Deserto Caiuá), onde a espécie habitava.

 

 

Estudo da anatomia

A técnica da osteohistologia, empregada no estudo, é relativamente destrutiva, pois consiste na retirada de fragmentos do osso, através de cortes com serras elétricas. As secções então são polidas até adquirirem translucidez suficiente para permitir a visualização em microscópio óptico.

 

A natureza destrutiva desta técnica, aliada à raridade da preservação de um fóssil, impede que muitas instituições pelo mundo concedam autorização aos paleontólogos para aplicá-la.

 

“Entretanto, neste caso, a peculiar abundância dos restos fossilizados do Vespersaurus paranaensis permitiram que fossem destinados alguns ossos para osteohistologia, sem que houvesse a perda de informações morfológicas da espécie”, esclarece Weinschütz.

 

“Através da contagem das marcas de crescimento contidas nos ossos (semelhantes aos anéis do tronco de uma árvore) apontam que os vesperssauros poderiam viver pouco mais de uma década (13 – 14 anos), mas se tornavam aptos para reprodução (ou seja, atingiriam a maturidade sexual) por volta dos 3 – 5 anos de idade. Isso significa que a maturidade sexual do V. paranaensis ocorreria antes do indivíduo completar seu crescimento”, enfatizou o pesquisador Geovane Souza.

 

Além disso, foi observada a presença de um tipo de tecido ósseo incomum para os dinossauros. O tecido em questão, conhecido na literatura como paralelo-fibroso, é caracterizado por um alto grau de organização das fibras de colágeno contida nos ossos, o que demanda mais tempo para sua formação ao longo do crescimento do animal.

 

Logo, esse tipo ósseo sugere que V. paranaensis possuía taxas de crescimento relativamente mais lentas do que o observado em outros dinossauros, aves e mamíferos. Isso faz com que o crescimento do Vespersaurus se assemelhe mais aos reptilianos, como jacarés e crocodilos, do que aos demais dinossauros.

 

Ainda não se descarta a possibilidade de que a redução da taxa de crescimento do V. paranaensis seja uma adaptação ao ambiente árido que a espécie habitava. Talvez um crescimento lento seria vantajoso para animais que viviam em ambientes com limitação sazonal na disponibilidade de alimentos, como um deserto.

 

Apesar dos dinossauros fascinarem tanto cientistas quanto o público leigo, muitas perguntas sobre seu crescimento, metabolismo e anatomia ainda permanecem sem respostas.

 

“Compreender questões dessa natureza é algo fundamental para que entendamos quais os mecanismos e estratégias de sobrevivência existiam no passado do planeta, sobretudo de espécies como os dinossauros, animais que outrora foram componentes principais das faunas terrestres, que viveram em um mundo sobre constante mudança climática, mas que enfrentaram uma drástica redução em sua diversidade na extinção em massa que marcou o final do Mesozoico”, comentou o pesquisador Alexander Kellner.