Produtores rurais rionegrenses apontam os desafios da vida no campo

Clima, incentivos e pandemia são os principais desafios para manter a
produtividade e rentabilidade do agronegócio local.

Desde que uma lei federal estabeleceu 25 de julho como o Dia do Colono, há 52 anos, muita coisa mudou na vida do produtor rural brasileiro. Mas esforço, dedicação e trabalho árduo ainda fazem parte do dia a dia dos responsáveis por mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários do país.

O censo agropecuário, divulgado pelo IBGE no final do ano passado, revela que apesar do envelhecimento do homem do campo (a maioria tem mais de 45 anos e 60% das famílias estão há mais de 30 anos na atividade), muitos fazem uso amplo das tecnologias de comunicação. Segundo a última pesquisa, 61% dos produtores rurais têm celular com acesso à Internet. Em 2013, apenas 17% faziam uso da ferramenta. Atualmente, 96% dos agricultores conectados utilizam o WhatsApp e 67% o Facebook em suas comunicações.

Os agricultores rionegrenses Evanderson Bayer e Helbert Baumel vivem no campo desde que nasceram e concordam que a tecnologia mudou muito a vida no campo. Ferramentas que agilizam as negociações e tecnologias que mecanizaram o esforço que antes era manual, aliviaram o dia a dia dos produtores rurais, mas também trouxeram novos desafios. À redação do Riomafra Mix, eles contaram um pouco da rotina de trabalho e da dificuldade em manter um negócio familiar em tempos de pandemia.

Desafios na fumicultura
Ele tem 26 anos e encara a vida no campo como profissão desde os 18. “Mas ajudava na lida desde muito cedo”, garante Evanderson Bayer, responsável pela propriedade da família localizada no Lageado dos Vieiras. “Meus avós sempre viveram da lavoura. Minha mãe tem 55 anos, 45 deles dedicados ao campo e meu pai vive só da agricultura há pelo menos 30 anos”, conta. O sustento da família vem principalmente da cultura do fumo, mas também trabalham no cultivo de milho e soja, além de algumas cabeças de gado, que servem aos familiares.

Evanderson Bayer é responsável pela propriedade da família em Lageado dos Vieiras. Foto: Arquivo pessoal.

Para Evanderson, a tendência de envelhecimento do homem do campo é resultado de uma ideia dos mais jovens de que a agricultura não é suficiente para trazer um futuro digno e estável. “Viver na cidade não é garantia de uma vida melhor, o jovem precisa saber que a vida no campo também é muito boa. Eu estou na lavoura e não posso reclamar”, diz.

O jovem agricultor espera seguir o exemplo dos pais e avós e constituir sua família também no campo. A herança que pretende carregar consigo é o trabalho árduo e a honestidade. “Se você trabalha com honestidade vai produzir e conseguir realizar seus sonhos. Esse é o exemplo do homem do campo e que vejo nos meus pais”, pontua.

Dentre os desafios vividos no agronegócio, Evanderson acredita que o mais recente é a superação do novo coronavírus. Ele conta que o dia a dia de trabalho na propriedade da família se manteve após as medidas de combate à covid-19, mas as negociações se tornaram mais difíceis. “Neste ano, as vendas ainda estão desenrolando, coisa que ano passado já estaria resolvido. Esse ano o agricultor teve que procurar os negociantes da safra, antes o negociante vinha até o produtor antecipadamente”.

Apesar das dificuldades impostas para as novas negociações, o jovem produtor rural diz que a rotina de trabalho nessa época do ano é mais “tranquila”: “Entre dezembro e fevereiro nosso trabalho é mais puxado. A gente acorda por volta das 4h30 e para somente por volta das 20 horas. Depois, na época da secagem, é preciso acordar durante a noite para atender as estufas. De março a julho é mais tranquilo, se acorda por volta das 6h30, trata os bichos, organiza a chácara, revisa cercas, faz reformas. Depois volta a ficar mais agitado, quando temos que transplantar a lavoura, aí o trabalho é de sol a sol”.

“Empresa a céu aberto”
Casar e continuar vivendo da agricultura também é o projeto de Helbert Baumel, que aprendeu tudo com o pai, que por 45 anos viveu do plantio de fumo. Com o trabalho que passou de geração em geração, a família hoje cultiva soja, milho, feijão, trigo e batata salsa. “Neste momento, é ainda mais importante o agricultor continuar trabalhando para alimentar as pessoas na cidade”, afirma Helbert, que também sente as dificuldades de negociação após a pandemia do novo coronavírus.

Helbert Baumel (ao fundo) aprendeu com a família o cultivo do fumo. Foto: Arquivo pessoal

Dentre as dificuldades partilhadas por todos os produtores rurais, ele destaca a participação do clima na produtividade. “A propriedade rural é uma empresa a céu aberto, então tudo depende dos fatores climáticos. Em 2015, tivemos um grande prejuízo com o trigo, devido ao excesso de chuva”, recorda.

Para ele, as tecnologias facilitaram muito a vida no que diz respeito à mão de obra. Mas também trouxe aumento para os custos de produção. Para se chegar a um cenário mais favorável para o agronegócio, o agricultor acredita que é necessário baixar os custos dos insumos e combustível, além de uma melhor valorização na venda da mercadoria produzida.

Helbert divide as tarefas diárias com os pais e em breve, deverá também contar com a ajuda da irmã, que estuda agronomia. “Eu gosto da vida que tenho aqui e vejo um bom futuro para nós, com cada vez mais tecnologias para facilitar o trabalho, fazendo e ensinando o que aprendi desde pequeno com meus pais”, conclui.