Sistema inédito no Paraná alerta vítimas em tempo real
O sistema cruza dados de localização entre vítima e agressor, permitindo ação imediata da polícia e oferecendo uma rede de proteção contínua.


O Paraná está à frente no enfrentamento à violência contra a mulher com o desenvolvimento de um sistema inédito no Brasil: a Monitoração Eletrônica Simultânea (MES), projeto-piloto que permitirá alertas em tempo real para vítimas e forças policiais em casos de descumprimento de medidas protetivas. O investimento do Estado para o desenvolvimento da tecnologia e prestação do serviço é de R$ 4,8 milhões.
O contrato com a empresa responsável foi assinado em maio, com previsão de entrega dos equipamentos até setembro à Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp). Durante esse período, o sistema está em fase de ajustes e testes para garantir seu pleno funcionamento em diversas condições.
“Trouxemos o que há de mais inovador em tecnologia para proteger nossas mulheres. É uma iniciativa pioneira no Brasil e será uma ferramenta essencial para as forças de segurança, o Judiciário e o Ministério Público”, afirmou o coronel Saulo de Tarso Sanson Silva, diretor de Políticas Públicas da Sesp.
Como funciona o sistema
O funcionamento da MES é baseado em dois dispositivos interligados: a vítima utiliza um smartphone especial, chamado Unidade Portátil de Rastreamento (UPR), enquanto o agressor usa uma tornozeleira eletrônica de última geração. Os dois equipamentos compartilham dados de localização 24 horas por dia, criando uma barreira digital de proteção.
O diferencial do sistema paranaense está na capacidade de notificar não apenas a polícia, mas também a própria vítima, caso o agressor se aproxime. A zona de segurança é dividida em dois níveis: a zona de advertência, com 500 metros de raio, e a zona de exclusão, com 200 metros. Juntas, formam uma área mínima de 700 metros que o agressor não pode ultrapassar.
Se ele adentrar a zona de advertência, a tornozeleira vibra e emite uma luz roxa, sinalizando que está em área proibida. A vítima é alertada imediatamente por SMS, WhatsApp e chamada telefônica automática. Se o agressor se aproximar ainda mais, entrando na zona de exclusão, o celular da vítima se transforma em uma central de monitoramento, exibindo a localização exata do agressor e permitindo o envio de vídeos diretamente à polícia.
Nesse momento, um alerta de prioridade máxima é emitido para as forças de segurança, que enviam uma viatura para a proteção da vítima.
“Esses raios de proteção podem ser ajustados conforme determinação judicial. Em zonas rurais ou situações de risco elevado, por exemplo, a distância pode ser ampliada”, explicou o coronel Sanson.
Mesmo em locais com sinal de internet fraco ou inexistente, o sistema continua operando. Os dispositivos se comunicam por Bluetooth em um raio de até 100 metros. Caso a tornozeleira seja rompida ou perca o sinal, a vítima recebe um alerta imediato e a polícia é acionada.
Aceitação e implementação
A Sesp criou uma Comissão Técnica de Aceitabilidade para acompanhar o desenvolvimento e os testes do sistema. Após a entrega dos equipamentos, eles ficarão à disposição do Judiciário, que poderá determinar seu uso em casos específicos. O monitoramento depende do consentimento da vítima, que receberá treinamento da Polícia Penal do Paraná (PPPR) sobre o funcionamento e a utilização dos dispositivos.
O projeto-piloto será implementado inicialmente em Curitiba, durante os primeiros seis meses. Em seguida, será expandido para Foz do Iguaçu e, após um ano de operação, para todo o território paranaense.
Ao longo do primeiro ano, será desenvolvido um algoritmo com base em inteligência artificial, que analisará dados das ocorrências para aprimorar o sistema e auxiliar o Judiciário na definição das distâncias mais eficazes entre agressores e vítimas.
Resultados e ampliação de políticas públicas
Essa ação integra um conjunto de medidas que o Governo do Paraná vem adotando para ampliar a segurança da população, especialmente das mulheres. Em março, o governador Carlos Massa Ratinho Junior assinou um decreto que expandiu o programa Mulher Segura para todo o estado.
Atualmente presente nos 399 municípios paranaenses, o programa promove ações educativas como as palestras “Mulher Segura”, “De Homem para Homem” e “Violência Doméstica”, esta última voltada ao público adolescente.
Como resultado dessas políticas públicas, o número de homicídios de mulheres caiu 18,7% nos últimos dez anos no Paraná, segundo o Atlas da Violência 2025, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Com informações do Governo do Estado.