Mafrense que vive no Japão compartilha rotina de enfrentamento a Covid-19
Ela mora há quatro anos e meio na cidade de Ushiku-chi, no Japão e há três semanas vive com as
Ela mora há quatro anos e meio na cidade de Ushiku-chi, no Japão e há três semanas vive com as restrições impostas pelo governo para prevenção ao coronavírus. A mafrense Vanessa Kosmala Ueti, o marido Rodrigo e as filhas Alice, de seis anos e Kaori, de dois, compartilharam com a redação do Riomafra Mix como tem sido a rotina dos japoneses na luta contra a propagação do víru
“Aqui são as crianças que vem educando os pais quanto à prevenção. Os estudantes passam por diversos treinamentos e orientações desde muito cedo na escola e trazem essas informações para casa. Então as pessoas se adequam muito rapidamente ao que é pedido”, explica Vanessa. Nas últimas semanas, apenas as creches realizam atendimento para os pais que ainda precisam trabalhar. Crianças mais velhas são orientadas a permanecer em casa. Mesmo assim, os cuidados para a permanência das crianças na creche são redobrados. “Os pais são
obrigados a levar o filho até a porta da escola de máscara. Lá, a professora recebe a criança, passa álcool gel nos objetos e mochilas e só então deixa a criança entrar. Pais não passam da porta”, diz.
Os moradores da cidade também têm permanecido em casa, sob as mesmas orientações que os brasileiros receberam na última semana sobre a lavagem das mãos e cuidados com objetos pessoais. A diferença, que também é resultante de uma cultura milenar no Japão, é a troca de calçado ao entrar em casa, reforçada agora pela orientação de que, assim que chegar da rua, deve-se trocar de roupa e tomar banho.
Outra tratativa bastante semelhante a que foi vista em Riomafra nos últimos dias, diz respeito às compras no supermercado. “As pessoas esperam do lado de fora, observando distância de um metro umas das outras e apenas algumas entram por vez; o número de itens que pode ser comprado também é limitado e não falta pra ninguém”, explica. Vanessa conta que num primeiro momento, algumas pessoas tentaram criar estoques, mas atitudes desesperadas foram logo combatidas pelas leis locais e as pessoas já entenderam que serviços de reposição dos itens básicos terão continuidade.
A movimentação pelo país também sofre restrições. Outra estratégia semelhante desenvolvida pelo nosso país diz respeito à chamada “sala de situação”, para atendimento dos casos gripais. “Os hospitais só recebem pacientes encaminhados a partir de uma central telefônica. Se o atendente encaminhar, a gente vai até o atendimento presencial e o paciente nem desce do carro, o médico ou enfermeiro vai até ele avaliar e passam a acompanhar a distância. Internamento só em último caso”, explica.
Uma preocupação que é compartilhada pelos moradores da cidade é o uso das máscaras. No país já existe o hábito de utilizar as máscaras, mas as notícias da doença zeraram os estoques e assim como aqui, não há previsão da chegada de mais unidades. “Sabemos que a melhor máscara para impedir o vírus é a N95, mas como ninguém encontra nem esta nem a descartável, fazemos uma versão artesanal, com tecido de fralda e tricoline que, segundo as autoridades japonesas, protege em até 70%”, conta.
Vanessa considera essencial a solidariedade das pessoas para atravessar a situação causada pela ameaça da COVID-19. Em Ushiku-chi, por exemplo, alguns idosos contam com ajuda para as compras, uma vez que não devem sair de casa. Estudantes que agora permanecem em casa devido à suspensão das aulas, costuram máscaras artesanais e doam para quem não consegue adquirir a sua. “Na empresa que trabalho, havia álcool gel estocado, o chefe cedeu uma garrafinha para cada funcionário, porque aqui também está escasso”, observa.
A mafrense ressalta que após tomadas todas as precauções, a melhor medida para o combate ao coronavírus é agir com tranquilidade e seguir uma regra de ouro: ficar em casa. “Essa é uma recomendação muito séria e que as pessoas precisam realmente levar a sério”, reforça.
“Fiquem em casa”
A empresária Flávia (que teve o nome trocado para preservar sua identidade) foi um dos primeiros casos suspeitos da doença na região. Desde a terça-feira (17) ela, a filha e o pai estão em quarentena domiciliar.
Flávia conta que os primeiros sintomas surgiram logo após uma viagem para uma das cidades que apresentou alguns casos confirmados de coronavírus. “Ainda no domingo e já em casa, comecei a sentir um mal estar geral, febre, suor intenso e tremor de frio”, relata. Durante a segunda-feira ela continuou febril. “Tive muita sede, cheguei a tomar 4 litros de água somente a noite, depois senti muita dor de garganta, como se algo estivesse machucando o tempo todo”, explica.
Ela diz que na terça feira ao acordar, percebeu que estava com o rosto inchado e ainda febril. Foi quando procurou assistência médica e ingressou na quarentena domiciliar. A filha também teve os sintomas e passou a ter cuidados especiais. O pai, que é diabético e hipertenso, faz parte do grupo de risco, porém não apresentou sintomas e se mantém monitorado pelas equipes de saúde. “Estamos todos em casa, sob medicação e tomando as medidas indicadas”, reforça a empresária.
A filha de 25 anos é a maior preocupação da mãe, pois o quadro gripal apresentado por ela ainda não melhorou. “Hoje ela amanheceu muito mal, não dormiu a noite e está tossindo muito”, disse ela à redação do Riomafra Mix na última quinta-feira (19). A família ainda não sabe dizer se os exames apontaram a presença do vírus, mas a apreensão pelo resultado ainda é grande. “Se eu puder dar um conselho às pessoas que questionam as orientações do governo, digo, fiquem em casa!”, ressalta.