Em casa e isolados, idosos vivem expectativa pelo fim da quarentena
Idosos riomafrenses contam como superam o isolamento social imposto pela covid-19

Após o início da pandemia do coronavírus houve aumento de quase 50% nos casos de depressão e de 80% nos casos de ansiedade no Brasil. O estudo é da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e demonstrou que pessoas que não convivem com crianças ou idosos têm mais chances de desenvolver depressão no período do isolamento social.
O isolamento social também deixa os idosos mais vulneráveis à depressão. Além do medo relativo à sua própria saúde e de seus familiares, a situação de quarentena também pode levar pacientes da terceira idade a despertar sentimentos como estresse, ansiedade, tristeza e solidão. Em entrevista ao Riomafra Mix, idosos riomafrenses contaram como buscam superar este momento de incertezas e isolamento social.
Expectativa
Com dois bisnetos a caminho, a viúva Neusa Elias Wolf sente um misto de ansiedade e saudade. Desde o início do isolamento social, ela tem contato frequente apenas com um dos seus cinco filhos, que mora na casa vizinha à sua. “Ele manda mensagem, pergunta se preciso de alguma coisa, depois bate no portão pra entregar”, explica.
“O isolamento é algo que eles precisam fazer para demonstrar que me amam e cuidam de mim”, reforça a moradora do Bairro Bom Jesus, que se acostumou a ter a casa sempre cheia desde que perdeu o marido, há 10 anos. Além da visita frequente dos filhos e netos, ela também recebia um grupo de amigas em casa durante a semana e trabalhava como benzedeira das crianças da vila. “Antes eu mandava em todos os filhos, agora sei que eles têm que cuidar de mim e ficar distantes, mas me sinto muito só, nunca fiquei tão sozinha. Ás vezes eu choro”, diz emocionada. “Faço direitinho tudo que meus filhos pedem”, reforça.

Um passatempo que traz conforto à aposentada são as atividades em tricô e crochê. Ela conta que mantém o foco nos trabalhos manuais que são destinados a doação para superar o sentimento de solidão. O isolamento adotado por Dona Neusa é tão regrado que, segundo ela, ainda não teve oportunidade de ver como ficou o mundo ‘lá fora’ depois da adoção das medidas de proteção.
Por enquanto, o contato com os amigos e familiares acontece apenas através das redes sociais. “Minha esperança é que até agosto ou setembro quando o primeiro bisnetinho chegar isso tudo já tenha acabado, tenho fé em Deus que vai acontecer”, comenta.
Fé em Deus e muito cuidado
“Assisto bastante à TV, mas você tem que procurar entender e buscar conteúdos realmente importantes”, diz o aposentado Juarez Adalberto Moreira, de 65 anos, que mora no bairro Saltinho do Canivete. Ele pertence ao grupo de risco não somente devido à idade, mas também porque já teve problemas cardíacos, pneumonia e meningite.
A presença da companheira ajuda Juarez a lidar com o isolamento social. “Meu dia a dia é lidar no quintal, dar uma caminhada no mato e cuidar dos cachorros”, conta. Antes da adoção das medidas que levaram ao isolamento social, ele diz que costumava receber a visita de parentes e viajar com frequência. Agora, os cuidados familiares vêm da sobrinha, que mora em Major Vieira. “Minha sobrinha faz contato todo dia para saber como estou e assim vamos mantendo contato”, relata.
Sobre os cuidados com a saúde, Juarez conta que tenta sair de casa apenas uma vez por mês, quando precisa realizar compras ou algum serviço bancário. “Eu não tenho medo, tenho muita fé em Deus e sigo os cuidados bem certinho, falo sempre com a agente de saúde também”, afirma. Para ele, o contentamento vem da gratidão em poder neste momento ter saúde e continuar com as pequenas tarefas diárias. “Espero que tudo volte ao normal logo, que as pessoas possam retomar sua vida, seu trabalho e ter saúde”, reforça.
Já o aposentado José Celeste Ferreira da Silva, de 64 anos, conta que tem receio de acabar ficando doente e por isso, abandonou a atividade de pedreiro que ainda exercia para ficar em casa. “As pessoas que não se cuidam deviam pensar mais nas outras, não apenas em si mesmas”, argumenta.
Segundo ele, a partir da interrupção da ‘vida normal’, a filha se tornou a responsável pelas tarefas que exigem sair de casa. “Não fico sozinho, mas espero que tudo isso acabe logo e por enquanto estou em casa” reforça.

Isolamento não significa solidão
A Geriatra Maisa Kairalla e autora do blog Chegue Bem explica que, apesar da importância em manter-se atualizado com as notícias a respeito da Covid-19, é importante que os idosos não fiquem focados exclusivamente em saber sobre a doença.
Dentre as dicas para que o tempo de isolamento seja bem aproveitado, a profissional recomenda atividades como ler livros e assistir filmes. Para que todos possam se manter ativos, ela também orienta a realização de atividades físicas dentro de suas limitações, mesmo que estas sejam realizadas dentro de casa. “Prepare suas receitas na cozinha, aprenda e arrisque novos pratos”, acrescenta.
Outro aspecto importante do isolamento social segundo a geriatra, é que ele não precisa significar solidão. Por isso, esta é uma boa oportunidade para se aprender a utilizar as redes sociais, aplicativos de mensagens e chamadas em vídeo para matar as saudades de amigos e familiares. Manter a espiritualidade ativa também ajuda a lidar melhor com o distanciamento social. “Independentemente da sua crença, procure meditar, orar ou rezar. Estudos apontam que pessoas que nutrem alguma crença têm um melhor equilíbrio na conexão entre mente e corpo, são mais positivas e reagem melhor a problemas e adversidades”, afirma.