Representantes empresariais falam da crise iminente em Riomafra
Em entrevista ao Riomafra Mix, os presidentes da ACIM e ACIRN falaram sobre o prognóstico de dificuldades para o desenvolvimento econômico local
Desde o dia 16 de março, quando os decretos governamentais suspenderam atividades escolares e, na sequência determinaram restrições ao comércio e a pratica do isolamento social, muitas preocupações tomaram conta do cotidiano de trabalhadores autônomos, pequenos, médios e grandes empreendedores.
Todos compartilham das preocupações com a possibilidade de um aumento exponencial de casos de coronavírus na região. No entanto, os empresários se sentem agora também ameaçados pelo perigo iminente da falência.
O Riomafra Mix conversou com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Mafra (ACIM), Carlos Alberto Nitz, e o presidente da Associação Comercial e Industrial de Rio Negro, Geovane de Lima, que expuseram o panorama da situação e aflições atualmente vividas pelos empresários locais.
Estamos há pouco mais de uma semana em paralisação das atividades não essenciais, devido aos decretos Governamentais. Na sua opinião, quanto tempo nossos comerciantes são capazes de lidar com as restrições sem quebrar?
Carlos Nitz (CN): Para algumas empresas não sei se haverá mais tempo de se recuperar. Pois além do período sem faturamento, quando retornarem as atividades normais, entendemos que o consumo não virá na mesma intensidade do período que antecedeu a quarentena. O retorno do movimento e do consumo será gradativo. Os fornecedores das empresas já estão enviando e-mails dizendo que não irão prorrogar títulos e boletos, pois também estão tendo bastante prejuízo com tudo isso.
Segundo pesquisa da JP Morgan, bares e restaurantes antes de quebrar, suportam sem entrada de receita por 16 dias, lojas de vestuário por 19 dias, oficinas de reparos por 18 dias, e outros setores não mais que 30 dias. Percebam que a quarentena imposta às empresas foi de 15 dias. Estamos no limiar de um problema bastante sério em nossa cidade.
Geovane de Lima (GL): Uma empresa existe para trabalhar com a porta aberta, produzir, atender clientes e necessidades. Sem isso ela não tem sentido. Estamos vivendo um momento único na história da humanidade. Certamente isso passará. Todos vamos sofrer com esse acontecimento, temos que ser fortes para conseguir passar.
Nos últimos dias, temos visto amplo debate entre trabalhadores e representantes da classe empresarial, que se dividem entre o apoio ao isolamento social ou o apoio à retomada das atividades. Como representante da classe empresarial, quais são os desafios e preocupações que você percebe que são compartilhados pela categoria?
CN: Com o passar dos dias, as pessoas vem aos poucos mudando de opinião. É claro que a saúde de todos sempre vem em primeiro lugar. Na minha concepção, esta quarentena foi um pouco precipitada. Veja que o caso da pandemia da gripe H1N1, de maior incidência entre os anos de 2009 e 2010, onde o risco maior era para gestantes, pessoas com doença crônica, e crianças entre 6 meses a 5 anos. Nesta ocasião lembro que houve grande preocupação por parte da população e esse grupo de risco foi orientado a evitar o convívio social. Todas as orientações de limpeza e cuidados foram tomados pelas empresas e pessoas naquela época. Mas não houve decretos de fechamento ou limitação das atividades das empresas, e portanto não houve prejuízos financeiros, não afetando a economia. Naquela época a imprensa tratava como gripe H1N1, desta vez, em nenhum momento a imprensa fala em “gripe” Covid-19. Particularmente, acho estranha esta diferença na divulgação desta pandemia em relação à anterior.
GL: Temos que pensar em uma retomada, estar preparados para voltar quando os poderes públicos entenderem que isso será seguro para sociedade. Espera-se que em breve.
Existe unanimidade por parte dos empresários acerca do isolamento X retomada das atividades?
CN: Quando o decreto foi publicado com quarentena de 7 dias, havia unanimidade pelo cumprimento do decreto. Percebemos que houve um grande respeito às restrições impostas. Algumas empresas até poderiam estar atuando de forma mais restrita, mas por dúvidas resolveram parar totalmente com as atividades.
Um fato que tem que se levar em conta, é que as pessoas físicas podem parar, mas as pessoas jurídicas não podem e não devem parar. Tem que ser permitido o seu funcionamento mesmo de forma reduzida. O que vimos, foi a orientação de que não se podia efetuar atividade nenhuma em algumas empresas ou até profissionais liberais. Mesmo um pedreiro que trabalhava sozinho foi proibido de trabalhar, visto as restrições colocadas na construção civil. Oficinas de manutenção onde trabalha 1 ou duas pessoas foram impedidas de manter seu trabalho. Posteriormente esta questão foi revista em outro decreto.
Agora com a edição do decreto 525 de 23/03/20, prorrogando por mais 7 dias, a maioria dos empresários pedem o retorno imediato das atividades. Há um movimento forte das entidades empresariais no estado de SC que pede pelo retorno no dia 30/03/2020.
GL: A vontade de todos com certeza é retomar ao trabalho, fazendo isso com responsabilidade de acordo com as orientações das autoridades.
Se no melhor dos cenários, a paralisação das atividades durar até o dia 30, de que forma os riomafrenses em geral poderão sentir o reflexo deste período na economia local?
CN: Temos observado nos últimos meses a abertura de vários estabelecimentos comerciais em nossa cidade. Todo inicio de atividade é difícil, visto que o retorno do investimento demora de 2 a 5 anos conforme a atividade.
Dependendo do grau de endividamento da empresa e os seus custos fixos, é bem provável que veremos em breve mais placas de aluga-se em várias salas comerciais de nossa cidade.
GL: Os reflexos certamente não serão sentidos somente na economia local. Isso está ocorrendo no mundo todo e aqui não será diferente. Teremos um período de dificuldades.
De que forma o associativismo poderá ser o diferencial para recuperação dos empresários, após a normalização do cenário e redução dos casos esperados de Covid-19?
CN: Agora mais do que nunca é hora das empresas organizarem-se pelo associativismo. Será juntos que encontraremos soluções e orientações para o melhor desempenho empresarial nesta crise que se instala. A ACI de Mafra possibilita que os empresários tenham as maiores oportunidades de treinamento de suas equipes de trabalho, e principalmente, fazer conexões com outras empresas, e consequentemente, maior possibilidade de negócios.
GL: Certamente o associativismo é uma alternativa para os empresários através das capacitações, networking, fortalecimento das empresas locais.
Já existe um plano ou alternativas traçadas pela Associação para a retomada do desenvolvimento empresarial no município?
CN: Sim, já estávamos com uma programação intensa para este ano, inclusive de vários treinamentos gratuitos às empresas associadas.
Mas nesta semana estamos debatendo intensamente a melhor forma de ajudar nossas empresas, mesmo antes da retomada das atividades. Há um trabalho conjunto com a FACISC, que já dispõe de diversas orientações jurídicas no âmbito trabalhista e de orientações online para que o empresário possa se reciclar e consiga da melhor forma se restabelecer nesse novo cenário. Espera-se que aqueles profissionais que estão em quarentena, sendo por simples folga, banco de horas ou férias, estejam aproveitando esse tempo para se preparar profissionalmente.
GL: Continuar com nosso trabalho junto as empresas com capacitação, orientações e apoio nas ações de fortalecimento do nosso comércio local.
Qual o panorama para o comércio local nos próximos meses?
CN: Entendo que a retomada das atividades vai ser de muitos ajustes dentro das empresas. Há indicativos de que uma das funções mais afetadas nas empresas será a de vendedores, que pela redução do poder aquisitivo e isolamento das pessoas, haverá menos consumo. Claro que consequentemente, vendas menores significam menos entregas, menor demanda na indústria e em toda a cadeia produtiva.
O que precisa é haver um diálogo maior entre o setor público e privado, antes de qualquer atitude mais drástica, como foi esta apresentada no decreto do último dia 18. Decisão esta tomada de forma unilateral.
Precisamos lembrar às pessoas, que o fato de estar em quarentena, não as desobriga de manter o pagamento em dia de suas contas. Talvez haja postergação de algumas contas, mas as advindas do setor público. Aquelas contas decorrentes de relação comercial, devem ser priorizadas para evitar problemas de restrições de crédito futuras. O fato de haver orientação do governo estadual de ficar em casa em quarentena, não exime as pessoas do pagamento de suas contas.
Finalizando, ressalto a importância das empresas fazerem parte de entidades empresariais como a ACI, pois grandes desafios exigem decisões sábias. E somente juntos é que encontraremos as melhores soluções.