Dois anos após pandemia, vereadora revive Covid-19 e é desafiada no plenário
Médico reagiu às acusações da vereadora com documentos e um desafio direto: “Insisto que encaminhe seus questionamentos ao TCE e ao MP, e que tenha o mesmo entusiasmo para divulgar as respostas como teve para expor nossas vidas.”


Apesar das prestações de contas relacionadas ao enfrentamento da Covid-19 em Rio Negro já terem sido aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado e pela própria Câmara de Vereadores, dois anos após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar oficialmente encerrada a pandemia, a vereadora Neusa Heuko Swarowski (Cidadania) insiste em um tema superado tanto no plano administrativo quanto jurídico.
A nova ofensiva veio através de um requerimento protocolado recentemente pela vereadora, exigindo uma série de informações da Prefeitura.
Neusa pediu detalhes sobre recursos recebidos dos governos federal e estadual, além de dados sobre balancetes, licitações, atendimentos, óbitos, repasses ao Hospital Bom Jesus, valores pagos ao médico Rodrigo Gondro e equipe, gastos com insumos e até mesmo registros sobre pacientes que seguem com sequelas.
A parlamentar justifica o pedido alegando que “todas as famílias rionegrenses foram impactadas direta ou indiretamente” pela pandemia, e que a publicidade dos dados é fundamental para garantir a boa aplicação dos recursos públicos.
No entanto, a insistência em revisitar o tema tem sido encarada por colegas e parte da população como uma espécie de “caça às bruxas”, motivada por embates pessoais levados ao plenário.
Alvo direto das críticas, o médico Rodrigo Gondro, que coordenou os atendimentos na “base covid”, usou a tribuna da Câmara para rebater a vereadora de forma contundente. “Questionamentos mal formulados levam a respostas incompletas, que geram conclusões erradas”, disparou o médico, ao destacar que sua fala tinha como objetivo “trazer luz sobre os fatos” e rebater as insinuações levantadas pela vereadora.
Gondro relembrou o início do caos, em março de 2020, e o medo coletivo diante de um vírus até então desconhecido. “Era medo do que viria. Medo de morrer. Medo de levar o vírus para dentro das nossas casas, para os nossos filhos.”
Segundo ele, a base foi criada por recomendação do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual, diante da ausência de médicos disponíveis na equipe de epidemiologia. A convite da então secretária de Saúde, Simone Gondro, ele assumiu o desafio. “Havia um trabalho a ser feito, e alguém precisava fazer.”
A unidade funcionava diariamente das 8 às 21 horas, com o médico e a enfermeira Ana Paula Kuhl ainda de sobreaviso durante a noite. “Assim foi março. Assim foi abril. Veio maio, e achávamos que em junho tudo estaria terminado, mas o pior estava por vir.”
Gondro entregou aos vereadores documentos que provam que todos os servidores da saúde foram convocados para atuar na base covid, mas se recusaram, citando motivos como idade, comorbidades ou mesmo medo. “Todos expressaram o desejo de não atender na base covid”, afirmou.
Ele também destacou a contribuição de outros profissionais que, com o tempo, aderiram ao atendimento e prestaram auxílio essencial durante a pandemia. No Hospital Bom Jesus, citou o trabalho de médicos que atuaram nos casos mais graves.
Sobre a crítica quanto à sua suposta exclusividade, explicou que o sistema CNES exige apenas um médico lotado oficialmente por unidade, o que não significa que ele atuava sozinho. “O que foi pago é o reflexo do tempo dedicado e aprovado por todas as instâncias competentes”, reforçou, citando os pareceres favoráveis da Prefeitura, Conselho de Saúde, Câmara, Ministério Público e Tribunal de Contas.
Ao fim de sua fala, Gondro desafiou abertamente a vereadora: “Insisto que encaminhe seus questionamentos ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público. E espero sinceramente que, ao receber as respostas, tenha o mesmo entusiasmo para divulgá-las em plenário, assim como teve para expor nossas vidas”, concluiu.
Assista a sessão na íntegra