Coronavac poderá ser a primeira vacina em SC

Federação dos Municípios vai assinar acordo com Butantan, que está produzindo a Coronavac em parceria com laboratório chinês

“Moscou inicia vacinação”; “Pfizer prevê ação emergencial na Índia”; “França compra 200 milhões de doses”.

 

Essas foram algumas das manchetes na última semana. A vacina do coronavírus já está em aplicação, na Rússia, e ela pode chegar ao resto do mundo mais rápido do que se imaginava. A realidade é que o esforço global, de cooperação entre nações, institutos e laboratórios está prestes a realizar mais feito para humanidade e antecipar a esperança de dias melhores com o fim da pandemia.

 

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Nesta semana, a Federação Catarinense de Municípios, a Fecam, vai assinar protocolo de intenções com o Instituto Butantan, uma das referências mundiais em produção de vacinas, para garantir que as prefeituras catarinenses possam comprar a vacina na falta de um plano nacional.

 

Em entrevista à Coluna Pelo Estado, o médico e ex-deputado Jailson Lima, atual consultor em Saúde da Fecam, explica porque assinar este acordo e quais são as previsões para a chegada de uma vacina em território catarinense.

 

Jailson Lima, Consultor em Saúde da Fecam
Jailson Lima, Consultor em Saúde da Fecam

 

O que podemos esperar sobre as novas vacinas contra o coronavírus e quando elas devem estar disponíveis em Santa Catarina?

O que é preciso deixar bem claro é que é preciso acabar com essa disputa ideológica em torno das vacinas, acabar com essas fakenews, nós temos visto um monte de coisas de que a vacina da China iria implantar um microchip nas pessoas, uma série de coisas que acabam sendo corroboradas com a própria postura que o governo federal tem tomado diante da vacina da Sinovac [laboratório chinês] com o [Instituto] Butantan. Hoje, no Brasil, se tem dois movimentos em relação às vacinas. Toda vacina no Brasil passa por um rito protocolar e ser aprovado pela Anvisa. A Fundação Oswaldo Cruz, que é do governo federal, fez um acordo com Oxford, do laboratório AstraZeneca, e que tem princípio ativo chinês; já o Butantan, que tem a maior indústria de vacinas da América Latina, fez um acordo com a Sinovac, que uma estatal chinesa. A diferença nesses dois movimentos está na forma como se dará a produção e comercialização dessas vacinas. No caso o Butantan haverá uma transferência de tecnologia, ou seja, aqui será possível produzir a vacina para os brasileiros. No caso de Oxford não existe transferência de tecnologia, o Brasil vai produzir aqui, mas terá que pagar os royalties anualmente para comprar essa vacina. Ainda temos a Sputnik da Moscou [Rússia], em que os estados da Bahia, Paraná e o Distrito Federal. A Rússia já começou vacinação em massa. Enquanto o resto do mundo já começou a vacinação propriamente dita, aqui no Brasil nós temos um Ministério da Saúde inerte e um presidente que não sabe o que faz.

 

O que nós estamos buscando é uma forma de garantir que a população catarinense não fique dependente dessa política nacional, ou da falta dela, que é o que temos visto. Ainda temos a vacina da Pfizer, que tem que ser armazenada e 70 graus negativo, o que torna muito caro o investimento em logística para o Brasil praticamente impossível.

 

E porque o acordo com o Butantan e não outros?

A iniciativa da Federação Catarinense dos Municípios com o Butantan é muito simples e lógica. Primeiro que é uma vacina que se pode armazenar em refrigeração comum e de todas é a mais barata de todas e a primeira que já vai estar disponível aqui no Brasil. Nós tivemos uma reunião na sexta com a participação do Bruno Covas, diretor do Butantan, e a informação que foi passada é de que até a segunda quinzena de janeiro eles terão produzido 46 milhões de doses, só e em São Paulo estão prevendo a aplicação de 10 milhões de doses em janeiro, e mais uma produção de 15 milhões de doses em fevereiro e mais 40 milhões em março. Estamos falando em praticamente 100 milhões de doses em três meses, que é o prazo previsto para qualquer outra vacina estar disponível no Brasil.

 

Quantas doses vacina virão para o Estado de Santa Catarina?

Nós vamos assinar na próxima semana um protocolo de intenções com o Butantan no sentido de que se o governo federal não incorporar essa vacina no seu plano nacional de saúde, não estabelecer os grupos prioritários e como a população será imunizada, os municípios catarinenses poderão adquirir a vacina da Sinovac. Ainda não estamos falando em quantidade, mas sim nos preparando porque antes de março não se terá por aqui nenhuma outra vacina. Eu imagino que se for disponibilizado um milhão de doses para Santa Catarina neste primeiro momento já será um alívio. Eu já fui prefeito e sei como que um prefeito pensa numa hora dessas. Imaginamos Rio do Sul, se o prefeito lá conseguir 30 mil doses da Coronavac em janeiro praticamente resolve o problema da população lá. Então é mais ou menos isso que a Fecam está buscando nesse momento, garantir aos prefeitos que eles não fiquem a mercê um planejamento nacional que pode atrasar o início da imunização por parte do governo federal.

 

E esse planejamento prevê quem será vacinado primeiro?

Como disse o protocolo de intenções é para garantir primeiro a vacina. Estamos falando aqui em volta às aulas, e se isso de fato for ocorrer, tem que se imunizar professores, por exemplo. Os hospitais, que já estão lotados, hoje estão com falta de profissionais que contraíram o vírus, então se imuniza os profissionais de Saúde, os grupos de risco, o planejamento para se tirar o melhor proveito tem que ser por aí. A Secretaria da Saúde está acompanhando esse movimento da Fecam e sabe que o Butantan é uma instituição reconhecida e que se esse protocolo de intenção for pra frente as vacinas vão chagar aqui em Santa Catarina. E assim como o governo federa, se o Estado não fizer nada, essa questão ficará a cargo dos municípios. Até o momento, o Estado ainda aguarda definições do governo federal, não quis se posicionar. O que não podemos é ficar esperando o Estado se manifestar, essa iniciativa da Fecam, de qualquer forma, também coloca uma pressão sobre o governo do Estado para que seja tomada alguma atitude.

 

Eu vejo que o governador está voltando agora [Moisés ficou um mês afastado do cargo para responder ao processo de impeachment que foi inocentado] e essa troca de governos também prejudicou muito. A governadora interina anunciou volta às aulas em um momento crítico, uma verdadeira insanidade. Eu vejo que Moisés, no início da pandemia, foi um dos governadores mais corajosos, porém acabou se submetendo às pressões. A esperança é de que ele consiga e possa tomar medidas que sejam eficazes nesse momento. O problema é que a doença avança. Log, logo o Brasil vai passar de 200 mil óbitos. Pessoas estão morrendo, hospitais estão lotados. Essa é a realidade.

 

Como foi essa reunião com o diretor do Butatan e o que foi tratado?

Esse encontro foi pedido pelo Consorcio de Municípios da Grande Porto Alegre e pela Federação dos Municípios gaúcho. A Fecam participou para falar sobre como vai funcionar nosso protocolo de intenções com o Butantan para eles tomarem como exemplo. Foi uma troca dessa experiência.