Adriana Dornelles revela bastidores da corrida eleitoral de 2020

Em entrevista exclusiva, ex-candidata a prefeita de Mafra falou sobre seu futuro na vida pública e analisou o papel das mulheres na política local.

 

 

A advogada Adriana Dornelles foi a convidada especial do programa “Dois Dedos de Prosa” do Riomafra Mix, em parceria com a rede de postos M7.

 

Durante a entrevista, a ex-candidata a prefeita de Mafra compartilhou sua experiência na corrida eleitoral de 2020 e falou sobre a importância da representação feminina na esfera política da região.

 

Confira a entrevista:

 

Como você avalia a eleição de 2020, em que você concorreu ao cargo de prefeita?

Eu amei participar. Ser candidata é uma das melhores coisas que existem. Gosto de conversar com as pessoas, de conhecer a realidade do município. Foi uma experiência muito engrandecedora. Houveram percalços, ainda mais quando você é a única mulher concorrendo, mas o que trago de ensinamento é que para ser candidato não basta só a vontade. Você precisa ser uma voz dentro da comunidade. Eu faria tudo de novo, mas com mais maturidade e menos ingenuidade. Naquela época eu tinha pouca experiência no meio político e acho que hoje a situação seria diferente.

 

Isso quer dizer que você se candidataria de novo em 2024?

Ainda falta um ano para as eleições e é prematuro dizer. Estou avaliando e não é algo que descarto totalmente. Tudo dependerá do contexto político, da questão partidária e da minha rede de apoio. Naquela época, quando concorri, a população ansiava por novos nomes, tanto que surgiram sete candidatos. Hoje, isso precisa ser levado em consideração. Neste momento, por questões pessoais, eu ainda não vislumbro essa possibilidade. Não quer dizer que as coisas não possam mudar quando chegar o momento oportuno.

 

Você acha que por ser a única candidata mulher nas últimas eleições, sofreu algum tipo de preconceito?

Eu sofri muito, já na largada. Nós fizemos uma reunião com as lideranças partidárias antes do lançamento da campanha. Nesta reunião, onde estavam várias lideranças de diversos partidos, nós decidimos formar um governo de coalização. Como muito queriam encabeçar a chapa, nós acordamos de fazer uma pesquisa, onde o primeiro lugar seria candidato a prefeito e o segundo lugar vice. A pesquisa saiu e meu nome ficou em primeiro lugar, e eu ingenuamente, fui entrando em contato com as lideranças para fazer coligações com os partidos. No dia da convenção, comecei a receber ligações e os representantes destes partidos disseram que não queriam mais coligar conosco. Essas lideranças, com as quais tínhamos um acordo, na última hora, nos deram o cano e tivemos que lançar a candidatura com chapa pura. Com isso, perdemos a força das coligações, um nome de fora da chapa para vice e espaço nas propagandas de rádio. São bastidores que as pessoas não ficam sabendo. E acho que muito disso se deve ao fato de eu ser mulher.

 

Sua campanha chamou a atenção por ser uma das mais caras de Mafra. O que você teria a dizer sobre isso?

Não sei se foi a mais cara, mas foi a campanha mais honesta. Teve alguns candidatos que chegaram no interior, fizeram churrasco para a comunidade e os gastos de campanha não eram compatíveis com o que se via nas ruas. Enganar o eleitor e a Justiça Eleitoral é jogo sujo.

 

Na nossa campanha, recebi o Fundo Partidário, o máximo permitido por lei; e 50% do valor foi destinado para a campanha de todos os vereadores da nossa chapa. Eu poderia ter usado todo o recurso sozinho, mas não acho justo que só quem tem dinheiro possa concorrer. Por isso, 50% do valor que recebi foi dividido em cotas iguais entre todos os candidatos. Uma campanha política funciona como uma empresa e a gente é obrigado a abrir CNPJ, a contratar funcionários, alugar espaço para instalação do comitê, bancar luz, água e veículos de campanha. Tudo como manda a lei e como deve ser. E mesmo com todas estas despesas, ainda sobrou parte do fundo que foi devolvido ao partido.

 

E tem mais. Eu tenho um trabalho social, onde ajudo pessoas de rua anonimamente. Há um tempo, um casal morador de rua me parou na rua e disse que me conhecia. Eles trabalhavam como carrinheiros e tinham com eles três caixas lacradas de um jornal que eu iria utilizar como material de campanha. Eles me contaram que pegaram aqueles jornais no aterro sanitário. Alguém da minha própria equipe jogou sujo comigo e o material que seria utilizado na minha campanha simplesmente foi parar no lixo. Para mim, todas as pessoas do meu time eram de confiança. É triste saber que fui ingênua e que este tipo de coisa é comum no meio político.

 

Como foi receber o resultado das eleições e ficar em quinto lugar, com 13% dos votos?

Isso foi uma lição. Eu estava em primeiro lugar nas pesquisas, e apesar de ser um ótimo indicador, não podemos confiar cegamente nelas. Os principais nomes das pesquisas eram eu e o Vicente Saliba. Na nossa última pesquisa, o Saliba chegou a ficar na minha frente com 800 votos a mais. E eu lembro que no dia da eleição, eu o encontrei na fila da votação e cheguei a parabenizá-lo. Com aquela virada, eu já não estava mais esperando ser a prefeita. Já o Saliba disse que na pesquisa dele, a disputa estava páreo a páreo. No entanto, o resultado foi inesperado. Acho que alguma coisa aconteceu nas últimas semanas que mudou totalmente o rumo das eleições. E na política, as coisas funcionam assim mesmo. De qualquer forma, estar em campanha foi um enorme aprendizado. Foi ótimo ter este contato com a população e entender as dinâmicas dos relacionamentos humanos. Muita gente que estava do meu lado, me virou as costas depois de perder a eleição. Em contrapartida, outros que nem considerava, se aproximaram e me parabenizaram. Sem dúvida, foi um grande aprendizado.

 

Mafra hoje tem uma vice-prefeita e uma vereadora. Você acha que a política mafrense tem espaço para as lideranças femininas?

A política de Mafra é um microuniverso da política do Brasil. As mulheres representam na Câmara dos Deputados 17% e no Senado 15%. Ou seja, o espaço para as mulheres é extremamente pequeno, levando em conta que estamos em um país continental. É comprovado cientificamente que as mulheres têm grande capacidade de gestão, agregação e empatia. Mesmo que não tenhamos a tradição da mulher na política, a maioria das candidatas eleitas desempenham muito bem os seus papeis. E eu gostaria muito de ver mais vereadoras mulheres na cidade, assim como uma prefeita mulher. Nós precisamos desta representatividade, não só no município, mas também no estado e no país.

 

Como você vê o cenário político atual de Mafra e a gestão do prefeito Emerson Maas e dos vereadores?

Estou acompanhando de fora como cidadã. Como ex-candidata, eu me preparei para executar as políticas públicas e estudar as dificuldades e potencialidades de Mafra. Eu sei que não é fácil gerir um município como este. Mas pelo que posso ver, parece que eles estão fazendo uma boa gestão. Eu não estou totalmente inteirada do que acontece nos bastidores, mas posso transmitir o que escuto das pessoas. Muita gente gosta da gestão do Maas, outras nem tanto. Já na Câmara, a gente percebe que há um bloco de apoio ao prefeito. Isso é natural, porque muitos vereadores apoiadores dele foram eleitos. Mas há também, alguns que se posicionam como oposição. De qualquer forma, acredito que eles estão conseguindo fazer esta gestão fluir da melhor forma possível.