Consultor Henry Quaresma avalia os impactos da pandemia na economia

O autor do livro O Fator China e os Novos Negócios avalia o delicado momento atual do Brasil, sem esquecer das alternativas e oportunidades que surgem apesar do grave desafio mundial.

“Para manter a economia funcionando durante a pandemia, as áreas mais afetadas, como micro e pequenas empresas, precisam de fôlego”. Foto: Divulgação

 

O que o mercado interno, a balança comercial brasileira e o combate à pandemia do novo coronavírus têm em comum? Tudo! Na visão de Henry Uliano Quaresma, consultor e especialista em desenvolvimento e negócios internacionais, múltiplos fatores e repercussões entrelaçam a crise sanitária global e o nosso sistema econômico.

 

Membro da Câmara Brasileira do Comércio Exterior da CNC (Confederação Nacional do Comércio), do Conselho de Administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil e ex-diretor da Fiesc, Quaresma traz a experiência de décadas à frente de comitivas internacionais com empreendedores e investidores catarinenses.

 

Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, o autor do livro O Fator China e os Novos Negócios (Aduaneiras – dezembro de 2020), avalia o delicado momento atual do Brasil, sem esquecer das alternativas e oportunidades que surgem apesar do grave desafio mundial. Confira:

 

O seu livro O Fator China e os Novos Negócios traz informações acerca da pandemia e da economia, destacando a importância do gigante asiático como principal destino dos produtos de Santa Catarina e do Brasil. Agora, com o Brasil como epicentro global da covid-19, como fica essa relação?

Henry Uliano Quaresma – A importância e a necessidade de boas relações internacionais, tanto comerciais quanto institucionais, só cresceu com a pandemia. Vemos hoje o resultado da parceria do Brasil com outros países na produção de vacinas contra a covid-19, unindo a força da pesquisa e da tecnologia internacionais com a competência de instituições, profissionais e cientistas brasileiros.

 

No caso da China, além da produção de vacinas, sentimos na pele a sua importância para a importação de insumos e, se olharmos de perto, vamos constatar a sua presença na logística que garante o acesso a importantes produtos. E também como destino das nossas exportações do agronegócio, como soja e carnes. É um país quase onipresente na economia globalizada; não pode ser evitado, esquecido ou menosprezado, mas sim tratado como um parceiro em potencial e observado com atenção para driblar os riscos, que sempre existem.

 

Os números da exportação e importação do nosso Estado e País não deixam dúvidas sobre a relevância da China para a economia. Entre janeiro e fevereiro deste ano, a corrente de comércio (soma das importações e exportações) entre Santa Catarina e China foi de US$ 1,62 bilhão, o que representou um incremento de 18,1% em relação ao mesmo período de 2020. Já o Brasil teve uma corrente de comércio com a China de US$ 15,6 bilhões entre janeiro e fevereiro deste ano.

 

Sem dúvida, a China é nosso principal parceiro comercial, mas sabemos que a melhor estratégia para seguir crescendo é a diversificação, por isso é preciso apostar em novos mercados e novos negócios, além de fortalecer os atuais.

 

No entanto, em nosso mercado interno estadual, existem muitos setores impactados pela pandemia. Como sobreviver a esse momento?

Para manter a economia funcionando, as áreas mais afetadas com a pandemia – como micro e pequena empresa, turismo e alguns segmentos industriais – precisam de fôlego para a sua recuperação, pois já não dispõem de capital de giro. Como toda a economia é interligada, essas quedas provocam uma cadeia de retrações.

 

Uma das opções de apoio seria criar um mecanismo rápido de capital de giro, como destinar parte do excedente da arrecadação estadual, durante um certo período, para linhas de financiamento às empresas, via BRDE ou Badesc. Vale lembrar que em janeiro a arrecadação teve incremento de 15,1% em relação a janeiro de 2020 e em fevereiro registrou crescimento de 5,7% em relação a fevereiro de 2020, conforme dados da Secretaria de Estado da Fazenda.

 

Com equalização de juros ou até carência de pagamentos, essas linhas podem injetar recursos essenciais para garantir empregos e negócios catarinenses. É preciso suporte para manter vivos os setores mais debilitados e garantir que a economia siga girando durante a pandemia.

 

E como têm se comportado os investidores internacionais?

Os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 34,167 bilhões em 2020, uma queda de 50,6% frente a 2019, conforme informação recente do Banco Central do Brasil. De acordo com as estimativas do próprio BCB, em 2021 os investimentos diretos poderão chegar a US$ 60 bilhões, havendo uma recuperação.

 

A realidade é que o Brasil está na 22ª posição mundial em relação à atratividade para investimentos internacionais. Em 2020, a consultoria A.T. Kearney colocou os Estados Unidos como país mais atrativo, seguido pelo Canadá, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Austrália, China, Itália e Suíça. Dentro do Programa de Parcerias de Investimentos do Ministério da Economia existem hoje 409 projetos qualificados, com uma previsão total de US$ 148,3 bilhões em investimentos e de US$ 28,9 bilhões em concessões.

 

Para este ano, o programa possui 129 ativos para leilões, que são estimados em US$ 76,6 bilhões. Aqui estão englobados 24 aeroportos, 19 portos, seis rodovias, três ferrovias, três companhias de energia, oito terminais pesqueiros, seis parques florestais, três projetos de óleo e gás, dois projetos na área de defesa e segurança, nove de direitos minerários, além de outros.

 

Áreas importantes e estratégicas, que devem receber um acompanhamento minucioso de várias instituições para garantir uma regulação adequada que fortaleça o ambiente de negócios.

 

E o que desponta como novidade para a economia de SC?

O avanço do comércio eletrônico no Brasil não pode ser ignorado e coloca Santa Catarina como destaque por sua posição estratégica próxima a grandes centros consumidores, atraindo Centros de Distribuição de grandes empresas, como o Mercado Livre. São investimentos volumosos que podem aquecer a economia catarinense pela geração de empregos e estímulo a novos serviços.

 

Também não podemos esquecer a promissora vocação tecnológica catarinense, que mesmo no difícil ano de 2020 conseguiu se fortalecer. O Observatório da ACATE – Associação Catarinense de Tecnologia, registrou, de janeiro a dezembro do ano passado, a geração de 2.493 postos de trabalho no setor.

 

O ano anterior, 2019, colocou Santa Catarina como o estado com maior crescimento de empresas de tecnologia. O apoio aos estreantes neste setor – estruturação de espaços, programas de formação, financiamentos e orientação ao ingresso no mercado – faz a diferença para o presente e o futuro da economia catarinense.

 

A própria ACATE apoiou o lançamento do fundo de venture capital Invisto para dar suporte a empresas iniciantes de inovação. E a Fapesc – Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina, em parceria com o Sebrae/SC, lançou edital de R$ 1,25 milhão para contemplar 25 empresas selecionadas dentro das 50 participantes do programa de capacitação STARTUP/ SC deste ano. Ações como essas devem ser aprimoradas e multiplicadas para alavancar esse importante segmento.

 

Quais as ações mais importantes a serem tomadas neste ano para fortalecer a economia catarinense?

É preciso muita atenção à questão de incentivos para indústrias e empresas catarinenses, pois até iniciativas resistentes precisarão de apoio neste momento. Além disso, é fundamental manter o investimento em infraestrutura logística, não apenas com a duplicação e o asfalto em rodovias, mas também com novas formas de ligação entre demanda e produção, como as ferrovias. Os aeroportos também terão uma função importante na área de cargas, em especial para o comércio eletrônico. Temos que cuidar desses setores para aproveitar as oportunidades e reduzir os riscos para nossa economia.