Consumo de ultraprocessados provoca pelo menos 57 mil mortes por ano no país

Estudo aponta que 10,5% dos óbitos de pessoas entre 30 a 69 anos está associado ao consumo deste tipo de alimento.

Foto: Divulgação

 

 

Um estudo inédito realizado por pesquisadores brasileiros, atribui ao consumo de alimentos ultraprocessados pelo menos 57 mil mortes no país em 2019.

 

O artigo, publicado nesta segunda-feira (7) na revista científica American Journal of Preventive Medicine, revela que, dos 541,2 mil óbitos de pessoas entre 30 e 69 anos, 10,5% estão associados ao consumo de alimentos ultraprocessados.

 

O número é maior do que o total de homicídios no país no mesmo período (45,5 mil) e do que a soma de mortes ao ano por câncer de pulmão (28,6 mil) e de mama (18 mil), os dois tipos de tumores que mais matam no país.

 

O estudo serve como alerta, já que o consumo de ultraprocessados cresceu 20% nos últimos dez anos no país, o que representa entre 13% e 21% dos alimentos consumidos pelos brasileiros.

 

“Buscamos quantificar, mostrar a prioridade pública, que é a questão dos ultraprocessados no Brasil. Isso é uma questão mundial. É muito importante encarar isso como um problema de saúde pública, trabalhar em políticas que favoreçam escolhas saudáveis a partir do padrão alimentar. É isso que vai preservar o que temos de cultura alimentar brasileira”, afirmou um dos autores do estudo, o pesquisador Eduardo Nilson, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP).

 

Os ultraprocessados são formulações industriais feitas com partes de alimentos e que geralmente contêm aditivos sintetizados em laboratório, como corantes, conservantes e aromatizantes. A lista é formada por guloseimas industrializadas, salgadinhos de pacote, refrigerantes, pizzas congeladas, biscoitos, chocolates, sorvetes, salsichas, nuggets, entre outros.

 

O consumo desse tipo de alimento também está relacionado ao aumento de peso e ao risco de várias doenças, como diabetes, problemas cardiovasculares e câncer. Os autores do artigo partiram desse acúmulo de evidências para construir um modelo que leva em conta os riscos do consumo de ultraprocessados e os associa a mortes em geral. Embora estudos de modelagem anteriores tenham estimado os impactos na saúde dos chamados “nutrientes críticos” — como sódio, gordura saturada e açúcar —, ainda não havia nenhum que calculasse as mortes prematuras atribuíveis ao consumo de ultraprocessados em geral.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são consideradas mortes prematuras aquelas abaixo de 70 anos.

 

O estudo

Para chegar ao resultado, os pesquisadores no Nupens utilizaram dados recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que abarcam informações sobre a dieta das pessoas.

 

De acordo com Nilson, justamente pelo fato de os ultraprocessados afetarem o organismo de tantas formas, o estudo optou por estimar as mortes por todas as causas —e não apenas por doenças determinadas. “Essa é uma forma de dimensionar a carga total de determinado fator de risco — nesse caso, o consumo de ultraprocessados — nas mortes totais na população desta faixa etária”, pontua o pesquisador.

 

O grupo também estimou que reduzir o consumo de ultraprocessados entre 10% e 50% poderia salvar entre 5.900 e 29,3 mil vidas, respectivamente, a cada ano. “Se mantivéssemos o consumo que tínhamos havia uma década, seriam 12 mil mortes a menos entre todas aquelas”, exemplifica Nilson.