Setembro Amarelo coloca em evidência a prevenção ao suicídio

No Brasil, 14 mil casos de suicídio são registrados por ano e assunto ainda é um tabu na sociedade.

Foto: Robson Komochena

 

 

A campanha Setembro Amarelo, organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, em conjunto com o Conselho Federal de Medicina, tem como objetivo a prevenção ao suicídio.

 

Atualmente, o Setembro Amarelo é a maior campanha sobre suicídio do mundo, uma vez que o registro de suicídios no Brasil é bastante alto e se aproxima de 14 mil casos por ano. Em média, 38 pessoas cometem suicídios diariamente e esse número tem aumentado cada vez mais nas faixas mais jovens da população.

 

Segundo o médico psiquiatra Claudio Gastal, falar sobre suicídio é a melhor forma de esclarecer os riscos e auxiliar pacientes e famílias que convivem com o problema, além de contribuir para que novos casos sejam prevenidos. No entanto, o assunto ainda é visto como tabu pela sociedade.

 

“As pessoas nem sempre conseguem entender que o suicídio é uma resposta a um sofrimento insuportável e acabam associando este ato à vitimização e fraqueza. Essa culpabilização faz com que as pessoas encarem o suicídio de forma estigmatizada. Isso tem suas razões históricas. Até não muito tempo atrás, as pessoas suicidas eram enterradas em montes de pedras e sem cerimônias religiosas. Até hoje, quando um caso de suicídio acontece, a família tenta mascarar o fato por conta do estigma e da vergonha”, disse.

 

Ainda segundo Gastal, o suicídio muitas vezes está ligado a uma série de condições sociais adversas que facilitam e tornam as pessoas mais suscetíveis à graves quadros de depressão, como abusos morais, falta de oportunidades, perdas injustas e outras situações difíceis de suportar. “Entender as relações e a dinâmica de nossa sociedade atual nos permite compreender o quanto as pessoas estão cada vez mais fragilizadas”, pontua.

 

O primeiro passo para ajudar alguém com pensamentos suicidas, segundo o especialista, é criar um espaço seguro, onde esta pessoa possa ser ouvida e se sentir acolhida. “É importante nunca minimizar aquilo que ela diz ou achar que esta pessoa está usando a ideia do suicídio simplesmente como uma espécie de chantagem emocional ou vitimização. A pessoa que revela a ideia de suicídio precisa ser escutada em profundidade e acolhida, para que assim, um vínculo se estabeleça. A possibilidade de criar um vínculo com a pessoa é a melhor forma de prevenir e combater o suicídio”, disse.

 

Para Gastal, o momento ideal para procurar ajuda depende da própria pessoa ou de sua família. Na maioria das vezes, essa busca ocorre quando a pessoa não consegue mais suportar o sofrimento e ter uma relação de escuta com alguém.

 

No Brasil, a população tem o apoio de voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), que proporciona apoio emocional, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, no 188, ou por chat, no site cvv.org.br.

 

“Muitas vezes esta escuta pode ser de extrema valia, mas também deve ser complementada com um tratamento de ordem psiquiátrica, quando envolvem casos de transtorno de humor ou depressão grave”, aponta o psicanalista.

 

Pesquisas mostram que pessoas que cometeram suicídio, em geral, nas duas semanas anteriores, tentaram buscar ajuda, seja pessoal ou profissional e essa ajuda não foi encontrada. “Nem sempre as pessoas têm sensibilidade suficiente para lidar com o problema. Em relação à família, é importante observar mudanças significativas de comportamento e conduta, baixo rendimento escolar, isolamento social, afastamento das relações familiares e eventuais usos de substâncias psicoativas”, alerta Gastal.

 

Conforme o especialista, o suicídio acontece, na maioria das vezes, por momentos de impulsividade e o uso de álcool e drogas podem potencializar os impulsos da pessoa que está em sofrimento.

 

“É muito importante ficar atento a estas situações e agir de forma compreensiva, jamais culpabilizando a vítima pela ideia de suicídio. Nós temos que nos mostrar acolhedores e fazer com que a pessoa sinta que tem alguém com quem possa contar e com quem possa estabelecer um vínculo”, pontua.