Cleber Odorizzi

Formado pela Associação de Sommelier de SC, o especialista fala do mundo dos vinhos, trazendo curiosidades, formas de cultivo de uvas e outras tendências.

Bordeaux: margem direita e esquerda

Conheça um pouco sobre como a geografia impacta na produção de vinhos na região francesa para fazer a melhor escolha.

Foto: Divulgação

 

 

Numa dessas confrarias, especialmente em um workshop ministrado sobre vinhos, surgiu a pergunta: margem direita ou esquerda de Bourdeax, qual é a melhor? O que de fato isso significa e porque simbolicamente para os degustadores, ouve-se falar sobre essa diferenciação?

 

Para quem não conhece, Bourdeaux é uma das regiões de produção de vinho mais famosas do mundo, onde são produzidas 20 milhões de caixas de vinho. Quase todos contam com a indicação de AOC Bordeaux, que é uma classificação mais genérica usada para qualquer vinho produzido com uvas da região.

 

Ao mesmo passo que possui a classificação genérica, Bourdeaux, também possui áreas específicas (Chateuax) e outras classificações que dão singularidades ao vinho.

 

A produção vinícola está concentrada às margens dos rios Garonne e Dordogne, que, ao se encontrarem, formam o estuário do Gironde.

 

Gironde, lá em cima no Norte, tem sua fonte nos Pirineus, na Espanha. A margem esquerda começa com Médoc e segue ao sul com Haut-Médoc, Saint-Estèphe, Paulliac, Saint Julien, Listrac-Médoc, Moulis e quando chega em Margaux é onde começa a divisão do Gironde em Garonne, do lado esquerdo, e Dordogne do lado direito.

 

O que diferencia cada lado, em geral, é que a margem esquerda tem a uva Cabernet Sauvignon predominante, que dá mais corpo para o vinho com taninos mais potentes (no blend é acrescentada a Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec ou Carmenére). O potencial de envelhecimento é maior, não sendo, especificamente melhor que a margem direita.

 

Na margem esquerda, também encontramos os únicos cinco vinhos da apelação mais elevada, a Premier Cru (Château Lafite, Château Latour, Château Mouton-Rothschild, Château Margaux e Château Haut-Brion).

 

Nesta margem, o cascalho no solo faz com que a drenagem de água seja favorável para as raízes. Isso faz com que as uvas fiquem menores, mais concentradas e com maior complexidade. Em termos de clima, a margem esquerda é mais fria, por sua proximidade com o Oceano Atlântico, o que ajuda a manter a acidez da uva, garantindo um amadurecimento, ou envelhecimento em garrafa, mais longínquo.

 

Na margem direita, a varietal predominante é a Merlot (com a opção de Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, a Malbec e Petit Verdot). O solo é rico em argila e calcário. O calcário faz drenar rapidamente a água, mas, a argila ajuda a mantê-la na profundidade, favorecendo a produção nos períodos mais quentes de verão. Isso é primordial pelo fato de que nesta margem não chegam as correntes marítimas do Atlântico, que ajudam a esfriar a margem esquerda e, se dissipam não alcançando a margem direita.

 

No aspecto geral, apenas grandes nomes dos vinhos conseguem extrair todas essas informações e definir os padrões que acham adequados. Para nós, enófilos, cabe apenas aproveitar quando se está diante de uma bela garrafa, não importando o lado.