Entrevista: “Sou produto da escola pública, só a educação garante mobilidade social”, afirma Odair Tramontin

Odair Tramontin (30) é candidato a governador pelo Novo, partido que não coliga nem usa fundo eleitoral.

Foto: Divulgação

 

 

Promotor de Justiça licenciado para a campanha, Odair Tramontin é filho de agricultores e, embora tenha apenas 60 anos, só conheceu energia elétrica aos 16 anos e banheiro dentro de casa aos 17.

 

Nasceu em Campo Erê, repetiu a quarta série, apesar das ótimas notas, para permanecer mais tempo na escola, até que chegasse o ginásio à comunidade. Trabalhou na roça, limpou estrebaria e chiqueiro, até virar frentista e servente de pedreiro para cursar o Ensino Médio. Em 1979, deixou o Oeste e veio para a Capital. Apenas nove anos depois, formado em Direito na Ufsc, conseguiu a “façanha” de tomar posse como promotor. Exatos 34 anos depois, viveu o primeiro dia de sua campanha a governador de Santa Catarina.

 

Mestre em Ciências Jurídicas, foi professor da Furb e primeiro coordenador do Grupo de Atuação Especial e Repreensão ao Crime Organizado em Blumenau. Decepcionado com o desmonte da Lava Jato, decidiu que a política seria o caminho certo para combater as causas – não apenas as consequências – da corrupção.

 

Fez prova interna no Novo para disputar a prefeitura de Blumenau em 2020, na eleição ficou em terceiro lugar com quase 23 mil votos, e novo processo seletivo para concorrer agora a governador. Recusa o fundo eleitoral, custeia as próprias despesas de campanha, e quer provar que é possível eleger-se governador só com doações, como o Novo elegeu o prefeito da maior cidade catarinense, Adriano Silva, em Joinville.

 

“No mundo inteiro surgem ambientes para essas aventuras tão trágicas como são as esquerdas tomando poder.”

 

O que faz com R$ 200 no bolso e um dia livre?

Convidaria alguém para tomar uma cerveja e comer uma pizza.

 

No que investe seu dinheiro?

Em imóveis e um pouco em renda variável.

 

Desejo de consumo?

Tenho tudo já, boa casa, carro 2013, casa de praia, isso é o suficiente pra mim.

 

Última compra que fez?

Estava viajando e venceu tudo, as pessoas me abraçam, então comprei uma camisa social.

 

Último livro que leu ou está lendo?

Contrailuminismo, livro muito legal que é uma aula de otimismo.

 

Música ou estilo de música preferido?

Mais variado possível, ouço a música que está tocando, extremamente eclético. Já gostei de música clássica, mas não perco o gosto pela música gaúcha. Agora, adoro a Do Fundo da Grota.

 

Hobby?

Andar e viajar de bike e de moto.

 

Esporte ou atividade física habitual?

Ciclismo com recorde de 150 quilômetros num único dia.

 

Religião

Católica.

 

Maior emoção na vida?

Nascimento dos filhos Isabela, 15 e Eduardo,16.

 

Sabedoria na prática (ditado ou conselho que sempre usa)

O tempo é o senhor da razão.

 

Dinheiro pra quê?

Pra nunca precisar de favor de ninguém, para a independência. Para o consumo das coisas básicas e simples. Pra quem já não teve dinheiro, poupança é fundamental.

 

Como vai ajudar a diminuir o custo das famílias catarinenses?

A começar pela qualificação da mão de obra, ou seja, pela educação. Sou produto da escola pública, do primeiro ano até a universidade. A mobilidade social garantida é através da educação. Sou filho de agricultores e hoje tenho uma vida confortável, exclusivamente pela educação e, claro, por elevada dose de esforço próprio. O catarinense vai ter vida melhor na medida que tiver educação melhor e, consequentemente, acesso a emprego melhor e à renda melhor. Aí ganha também a família e a comunidade. Vejo hoje, com tristeza, cerca de 12 mil vagas abertas na área de tecnologia, com salários a partir de R$ 4 mil, e um monte de jovens desempregados. Há milhares de desempregados e milhares de vagas ofertadas que não se cruzam porque falta qualificação.

 

Como classifica o atual momento brasileiro, quais os maiores desafios?

O maior desafio do Brasil é conter a inflação. Quem tem mais de 40 anos sabe como a inflação atinge a qualidade de vida e o poder de renda das pessoas mais pobres. Os pobres não conseguem se defender da inflação. Sobretudo os assalariados não tem para quem repassar os custos da inflação.

 

Como percebe a situação global, com recessão mundial e crise climática? Qual agenda faz sentido numa situação dessas?

O problema do mundo hoje é que faltam lideranças. Percebemos na época da Covid e agora, durante esta guerra (na Ucrânia). Se perguntar quem é o grande líder do momento, as pessoas não saberão ou vão apontar uma nonagenária que é a rainha Elizabeth. Não temos nenhum grande líder em atividade. Isso deixa o mundo órfão para discutir meio ambiente, desenvolvimento econômico, enfim, os destinos da humanidade. Também é muito ruim porque então ocorrem os fenômenos de polarização. No mundo inteiro surgem ambientes para essas aventuras tão trágicas como são as esquerdas tomando poder. Na América Latina, estamos quase ficando numa ilha, talvez o que nos salve é o velho Paraguai. Nós e o Paraguai. Conheço muito a América Latina em viagem de moto e ver um país como Argentina, que sempre foi um xodó, naquela situação. A Venezuela que conheci nos anos 90: conseguiram a façanha de falir um país com petróleo. A Colômbia, o caos que era, chegou a um momento legal de reconstrução e caiu na mão da esquerda. E principalmente o Chile, que era uma referência em qualidade de vida, também caiu na mão da esquerda. A agenda principal é da requalificação política. Vejo como ruim qualquer extrema, a direita quanto a esquerda. Sou de centro, acho que é por aí que temos de conduzir o mundo.

 

Qual será sua prioridade e estilo de gestão se eleito?

Prioridades são educação, infraestrutura e a desburocratização para tirar o peso do Estado do lombo do empreendedor. O estilo será de austeridade e gestão profissional. Meu lema é: temos de ter profissionais na política e não políticos profissionais. A contratação dos cargos de gerência, direção e assessoramento será mediante análise curricular. No partido Novo chamamos de processo seletivo. Indicação política zero e profissionalismo 10. Esse é o choque de gestão que queremos: pessoas certas nos lugares certos.

 

Como ou com quem vai compor sua equipe de governo?

Com um vice que atue diretamente, com cargo executivo, como modelo que temos em Joinville. A vice-prefeita Rejane Gambin trabalha junto com o prefeito. O governador tem de ser o líder, fazer as ações políticas, tem de ser alguém que enxergue a floresta, não as árvores.

 

O que espera das eleições 2022?

Queremos provar como governo do Estado, como provamos na Prefeitura de Joinville, que é possível eleger alguém só com doações, sem o uso do fundão eleitoral. E com doações módicas. Não é justo quem não gosta do PT pagar campanha para o PT. As campanhas precisam de financiamento, mas as pessoas devem financiá-las de acordo com sua afinidade. Tirar R$ 6 bilhões do orçamento brasileiro para gastar em 45 dias de campanha? O pagador de impostos não pode aceitar. É uma demonstração de descolamento do mundo real, estão matando gente com isso, porque há pessoas morrendo pela falta de leito de UTI. É um discurso de cidadania, não eleitoral.

 

Com informações da coluna Pelo Estado.