“Teremos que demolir, não há outra alternativa”, diz presidente do Clube Vila Nova

Faltando 82 dias para completar 100 anos, o desabamento de parte do telhado decretou o que já se desenhava há tempos: a demolição da estrutura.

Fotos: Robson Komochena

 

 

O ano de 2022 termina com uma notícia triste não só para a comunidade vilanovense mas para os saudosistas e apaixonados pela história: o anúncio da demolição do Clube Vila Nova, em Mafra.

 

Fundado em 20 de março de 1923, com o nome de Sociedade Concórdia Vilanovense, o local ficou conhecido Clube Vila Nova e foi palco de milhares de eventos, entre bailes, shows, casamentos e formaturas.

 

Faltando 82 dias para completar seu centenário, o desabamento de parte do telhado decretou o que já se desenhava há pelo menos quatro anos: a demolição da estrutura.

 

 

Em conversa exclusiva com o Riomafra Mix, Valdemar Stoberl, presidente do clube desde 1990 e membro da diretoria há 45 anos, detalhou o que fez a sociedade chegar na situação atual e explicou que não existe viabilidade de restauração.

 

Valdemar disse que, mesmo antes do desabamento, a estrutura já estava comprometida. “Ontem mesmo eu havia passado por lá, olhado e pensado ‘o telhado está envergando cada vez mais’. Várias vezes fui lá nesses quatro anos e cada dia mais, a estrutura estava se deteriorando. Goteiras e cupins comprometeram não apenas a parte que desabou. E não tem o que fazer, restaurar é totalmente inviável”, detalhou.

 

 

O declínio do Clube Vila Nova

Segundo o presidente, desde o ano 2000, os então sócios deixaram de pagar suas mensalidades, causando o primeiro problema financeiro do clube. “Os associados pagavam um valor mensal e foram deixando de cumprir. Esse dinheiro começou a fazer falta. Mandamos cartas, conversamos, mas poucos sócios continuaram ativos, até que se acabou o quadro de associados”, contou.

 

Valdemar contou que, apesar do déficit das mensalidades, a sociedade conseguiu se manter até 2017. “Em 2011 chamamos um engenheiro e fizemos um projeto de acústica, tentando amenizar o som, que já trazia problemas com a vizinhança”, destacou.

 

“Até 2013, mesmo sem sócios, fomos bem. Fazíamos bailes e outros eventos. Fomos o primeiro salão da região a atender todas as novas exigências do Corpo de Bombeiros”, contou.

 

 

Ainda, de acordo com o presidente, a partir de 2014 a situação financeira do clube começou a se agravar. “Começamos a sentir o impacto ainda maior no caixa. Todo ano, fechávamos no prejuízo. As promoções foram fracassando e as dívidas aumentando. Fizemos alguns eventos na tentativa de levantar fundos, e acabamos tendo mais prejuízo e aumentando as dívidas”, lamentou.

 

O presidente lembra que, mesmo com o caixa no vermelho, até 2016 o clube se manteve atuante. “O ano de 2017 foi precário. Não dava mais público nas promoções, tínhamos uma equipe grande, fomos diminuindo e vendo, literalmente, a coisa afundar. Fizemos alguns casamentos e formaturas. Se eu não me engano, em dezembro daquele ano o último evento da história do clube foi uma formatura da Escola Paula Feres”, relembrou.

 

 

Quatro anos fechado

Sem alternativas, com dívidas e problemas de denúncias por barulho, em 2018 a diretoria paralisou as atividades e a manutenção da edificação. “Lembro que fui até o prefeito e o delegado regional da época e contei sobre nossa situação. Até fui duro nas palavras: ‘vai virar um paiolzão’. Mas, segundo eles, a lei precisava ser cumprida. Naquele ano, que era eleitoral, até um candidato a deputado da região prometeu ajuda e nunca cumpriu”, comentou Valdemar.

 

“Tínhamos uma dívida grande de IPTU, em torno de R$ 60 mil. Pagamos R$ 22.500 e parcelamos o restante. Terminamos de pagar neste ano”, explicou.

 

Sobre o desabamento, o presidente que desde 1977 integra a diretoria da sociedade, diz que, apesar da tristeza, o sentimento ainda é de alívio. “É triste, sim, ver nosso clube chegar nesse estado. Mas, felizmente não aconteceu uma fatalidade”.

 

 

O futuro da Sociedade Concórdia Vilanovense

Segundo Valdemar, a ideia é, em meados de janeiro, fazer uma assembleia com a diretoria, associados e moradores do bairro para um veredito final.

 

“Vamos chamar nossa comunidade, diretores e até os antigos sócios, mesmo que inativos, para deliberarmos sobre o assunto. Mas não tem o que fazer, a única alternativa é demolir, e é isso que vamos expor. Aí vamos ver o que fazemos, temos outro terreno ao lado do clube que pode custear, quem sabe, uma nova estrutura. Mas isso é coisa para gente nova”, concluiu o presidente.