Transporte de indígenas para Mafra poderá ser investigado pelo Ministério Público; entenda

Segundo representantes da FUNAI, as cerca de 40 famílias não pretendem ir embora de Mafra.

 

 

As empresas e os responsáveis pelo frete de dois ônibus que transportaram cerca de 40 famílias indígenas de Chapecó até Mafra, no início desta semana, serão investigados. A informação foi repassada pelo prefeito de Chapecó, João Rodrigues, nesta quinta-feira (3). No momento, o grupo está abrigado em um acampamento na rua Pioneiro Antonio Cordeiro de Oliveira, no Centro de Mafra, ao lado do terminal rodoviário.

 

As famílias vieram para o município, após um conflito na aldeia Kondá no dia 16 de julho, onde um indígena foi morto com pelo menos quatro disparos de arma de fogo e vários ficaram feridos. Durante o conflito, cerca de 17 casas e cinco veículos foram incendiados.

 

De acordo com a Polícia Militar, o conflito tem relação com o descontentamento de um grupo com o resultado das eleições para cacique, ocorridas em 2022. Alguns dos desabrigados perderam as casas nos incêndios, enquanto outros, deixaram a aldeia por medo de novos conflitos.

 

Os indígenas foram levados provisoriamente para o Ginásio Ivo Silveira, onde permaneceram por 10 dias. Após o prazo, a Prefeitura de Chapecó disponibilizou transporte para que as famílias fossem levadas para outras aldeias indicadas e reconhecidas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI).

 

Índios chegaram em ônibus fretados. Foto: Divulgação

 

No entanto, na madrugada de domingo (30), sem que ninguém percebesse, dois ônibus estacionaram no pátio do ginásio e levaram dezenas de famílias a Mafra, sem o conhecimento da Prefeitura.

 

Segundo João Rodrigues, a Prefeitura de Chapecó ainda não sabe quem fretou o transporte dos indígenas até o município. “Quem patrocinou estes ônibus permitiu que crianças, mulheres e famílias fossem para um local insalubre e que não tem a mínima estrutura para abrigá-los, trazendo desconforto para toda a comunidade mafrense”, disse.

 

O prefeito também alegou que a empresa responsável pelo transporte e os demais responsáveis serão investigados. “Vamos descobrir a autoria e encaminhar o nome dos responsáveis ao Ministério Público para que sejam tomadas as devidas providências. Somos absolutamente contra qualquer tipo de invasão à propriedade pública e privada”, pontuou João.

 

Índigenas estão instalados ao lado do terminal rodoviário de Mafra. Foto: Robson Komochena

 

Famílias alegam que não pretendem sair de Mafra

Em nota, a Prefeitura de Mafra informou que está acompanhando a situação e trabalhando junto às demais autoridades para solucionar o caso.

 

No início da semana, o prefeito Emerson Maas participou de articulações com a Prefeitura de Chapecó, o comando das polícias Federal e Militar, FUNAI Centro Sul e FUNAI Curitiba, em busca de um desfecho adequado para as famílias. Porém, as tratativas não surtiram efeito.

 

Ainda de acordo com a Prefeitura, representantes da FUNAI estiveram em Mafra nesta quarta-feira (3) e se reuniram com lideranças indígenas, a Procuradoria-Geral e a Secretaria de Assistência Social do município.

 

“Os representantes da FUNAI conversaram em particular com os indígenas e ao retornar à reunião geral, comunicaram que as famílias não pretendem ir embora de Mafra. A entidade afirmou ainda que solicitará a concessão de um terreno, próximo de Três Barras, e que está sob posse do Exército Brasileiro, para realocação das famílias. Até que a solicitação seja deferida, os indígenas permanecerão provisoriamente no espaço ao lado da rodoviária”, afirmou a Prefeitura, em nota.

 

O texto também destaca que o local onde está instalado o acampamento não suporta a quantidade de famílias, nem possui qualquer estrutura de expansão para abrigar crianças e idosos. “Por diversas vezes, agimos para mudar a situação, inclusive oficialmente, dando opções de áreas já homologadas para aldeias indígenas na região de Chapecó e Blumenau, onde as condições seriam muito melhores do que a suposta área em Mafra, mas mesmo assim não obtivemos êxito”, explicou o texto.

 

Segundo informações, a escolha de se abrigar em Mafra foi motivada pelo parentesco com o cacique, que é filho de um dos indígenas desabrigados em Chapecó.