Censo 2022: rápido envelhecimento da população pode sobrecarregar saúde pública e Previdência

Cenário também altera a dinâmica produtiva e causa reflexos no mercado de trabalho.

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Os novos dados revelados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (27) apontam para uma mudança significativa na demografia brasileira.

 

Segundo o Censo de 2022, a idade mediana do brasileiro saltou de 29 para 35 anos em 12 anos, evidenciando um envelhecimento progressivo da população. Este fenômeno foi acompanhado pelo maior salto de envelhecimento entre dois censos desde 1940, resultando em um país com 55 idosos para cada 100 jovens.

 

Com a inversão da pirâmide etária, o Brasil enfrenta desafios consideráveis, especialmente no âmbito econômico. A redução da população em idade ativa é um dos principais impactos diretos desse processo. Especialistas alertam para as implicações desse cenário, especialmente no que se refere ao sistema previdenciário.

 

Conforme indicado pela proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024, o déficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deve mais que dobrar até 2060 e quadruplicar até 2100. Atualmente, o déficit já atinge a marca de R$ 276,9 bilhões, equivalente a 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Projeções pessimistas apontam para um resultado negativo de R$ 3,3 trilhões em 2060 e um alarmante montante de R$ 25,22 trilhões em 2100, equivalente a 10,4% do PIB.

 

Conforme ressaltado pelo especialista em Previdência, Luis Eduardo Afonso, é imprescindível que o Brasil adote medidas estruturais de longo prazo para lidar com o desafio do envelhecimento populacional. Contudo, a análise indica que o país continua a adiar tais ações.

 

Ele lembra que, desde a Constituição Federal de 1988, diversos gastos estão engessados — ou seja, com destino obrigatório —, o que aumenta os desafios quando o país precisar destinar mais recursos para Previdência e Saúde. “Temos que fazer uma mudança estratégica de longo prazo, e não esperar que uma nova rodada de aumento da taxa de desemprego nos obrigue a tomar decisões precipitadas”, disse.

 

Para Marcelo Neri, diretor do FGV Social, o Brasil enfrenta um desafio demográfico acelerado. “As reformas implementadas no país costumam ter efeitos limitados, já que, geralmente, são tardias, e incluem muitas exceções que comprometem sua efetividade”, disse.

 

Neri também sugere a reinserção dos aposentados no mercado de trabalho como uma medida potencial para lidar com os desafios econômicos. No entanto, ele ressalta obstáculos consideráveis, como a lacuna na escolaridade e a baixa taxa de conectividade entre os idosos, que dificultam essa reintegração.