Retomada na população de sapos deve ocorrer em 10 anos, diz especialista
Quem reside há tempos nos bairros ou no interior da cidade deve se lembrar dos tempos em que sair de
Quem reside há tempos nos bairros ou no interior da cidade deve se lembrar dos tempos em que sair de casa significava um inevitável encontro com inúmeros sapos. Independente de quem goste do bichinho ou não, a presença do chamado “sapo cururu” – o mais comum em nossa região – compõe o equilíbrio ambiental necessário para garantir a qualidade de vida das pessoas.
“Em 1979, os sapos praticamente vinham para a aula com os alunos”, recorda o coordenador do curso de Biologia da Universidade do Contestado, professor Mario Fritsch. Ele explica que o declínio da população de sapos foi anunciado ainda na década de 1980 por diversos pesquisadores da área ambiental, mas foi a partir de 1990 que o sumiço do animal ficou mais evidente. “Nós não sacrificávamos sapos nas aulas em laboratórios, mas precisávamos deles para a coleta de protozoários. Simplesmente faltavam sapos”, observa.
Segundo o especialista, o efeito mais imediato da queda do número de sapos é a ampliação do número de insetos, especialmente nas estações mais quentes do ano, uma vez que um único sapo pode comer centenas de insetos em um dia. Ele enumera alguns fatores que contribuíram para o desaparecimento dos animais nos últimos anos, como a radiação ultravioleta, que acaba matando os girinos e as variações químicas no ambiente com o uso de agrotóxicos, por exemplo, que contaminam rapidamente os sapos devido à sua pele não possuir a camada córnea, o que os torna mais “permeáveis”.
Outro fator que contribuiu para o declínio da população foi a proliferação de uma doença chamada “quitrídia”, transmitida por um fungo que atinge as populações de girinos e filhotes. O professor explica que essa doença colocou em risco 500 espécies de anuros e foi responsável pela extinção de 2 centenas delas na década de 1990. “Em Riomafra não temos problemas de predadores naturais, mas em alguns lugares o crescimento da população de animais predadores também contribuiu para a redução dos sapos”, acrescenta.
“No campo, se o sapo não existisse, teria que ser inventado”, pontua Mario, que ressalta a importância do animal para o controle de pragas sem uso de agrotóxicos. E é a partir do campo que, segundo avaliação empírica do professor, as populações vêm retomando o crescimento. “Quem mora no campo já está percebendo que o sapo cururu está de volta; em alguns lugares na cidade também já temos relatos de pessoas que, com frequência encontram sapos em casa”. Para ele, o retorno da população é esperado, uma vez que há maior regulamentação do uso de pesticidas no campo.
Dentre as estratégias que podem ajudar os adultos do futuro a encontrarem sapos está a de não estimular as crianças a terem medo desses animais. Não maltratar os bichos que começam a aparecer novamente também ajuda. “Dessa forma, dentro da próxima década, poderemos ver a retomada populacional aos moldes do que havia em 1980”, avalia o professor.