Museu de tradições gaúchas retrata a vida dos primeiros migrantes da região

Nelson Solis se define como “gaúcho da gema” e, nos últimos anos vem se dedicando à exposição de diversos itens campeiros utilizados pelos primeiros gaúchos da região.

Quase todo mundo que curte um bom baile na região tomou gosto pela música gaúcha e aprendeu a dançar com eles. Mas o que muitos ainda não sabem é que o casal Nelson Solis da Silva e Beatriz Ivone da Silva é também responsável por aquele que seguramente é o maior acervo cultural gaúcho da região.

 

Localizado no espaço onde atualmente o casal realiza cursos de dança para todas as idades, a ideia de reunir os itens que lembram as tradições gaúchas surgiu quando eles resolveram criar uma sede própria para a realização dos cursos. “Os filhos já haviam terminado os estudos, então juntamos nossas economias e, como já estava cansativo realizar cursos em diversas cidades, resolvemos desenvolver um espaço em casa, para não parar totalmente”, conta Beatriz.

 

Solis conta que depois da inauguração do espaço para cursos, o casal começou a organizar ainda dentro de casa um espaço que conta a história da própria família. Dentre lembranças dos filhos, artesanatos da esposa e honrarias militares, o 2º Sargento aposentado recorda momentos vividos na cidade que o acolheu desde 1973. “Fomos muito bem recebidos nessa terra e por 40 anos buscamos retribuir um pouco dessa acolhida compartilhando as tradições com outras famílias da região”, observa.

 

Solis e Beatriz também possuíam inúmeros itens que remetem às tradições gaúchas e assim que começaram a formar uma exposição, eles foram se multiplicando. “A partir do momento que organizamos os primeiros trastes campeiros, as pessoas começaram a se interessar e doar objetos que muitas vezes ficavam jogados em casa”, conta.

 

No roteiro de visitação criado pelo casal, vários itens que despertam curiosidade contam com nota explicativa sobre o contexto histórico e uso que se faziam. No entanto, acervo reunido ainda não foi completamente catalogado e o valor histórico e cultural das peças é incalculável. Solis estima que mais de 500 itens compõem a exposição, que conta com objetos bem conhecidos como as piuchas e cuias de chimarrão até aqueles que há muito caíram em desuso, como o ferro de passar com brasa, a “bruaca” e a “quaieira” – esta última usada no pescoço de cavalos e mulas para possibilitar a tração de arados. 

 

A “quaieira” ou “comacho”, era utilizada para que os animais de tração pudessem puxar o arado ou carroças.

 

Além dos objetos que despertam curiosidade, o acervo conta com instalações que remetem ao estilo de vida dos gaúchos do passado. A mais tradicional de todas é a chanca de bocha, que ainda recebe jogadores e conta até com espaço para os torcedores. Há também a reprodução de um poço d’agua, de um banheiro e de um espaço para banhos reproduzidos exatamente como eram antigamente.

 

Os banheiros de antigamente eram instalados a 20 metros das casas.

 

Já o salão de Baile conta com inúmeros itens musicais do passado, como um rádio valvulado com mais de 80 anos e que ainda funciona; tocadores de LP e fitas K7 e o famoso “Bolicho”, boteco preparado para oferecer bebidas, churrasco e outros quitutes para os casais durante os bailes. “Hoje fazemos parte do roteiro turístico do município, o que nos enche de orgulho”, afirma Solis.

 

Reunião em família

“O nosso lema é cultuar as tradições gaúchas em qualquer chão”, explica Solis. Para ele, o maior legado construído pelo casal desde que a dança os uniu em um Centro de Tradições Gaúchas na cidade de Santa Rosa, foi a reunião das famílias pela dança, pelo artesanato e por um bom dedo de prosa em uma roda de chimarrão. “Vimos muitos casais se formarem nos cursos de danças e mais tarde tivemos ainda o prazer de acompanhar as famílias, que voltavam para acompanhar seus filhos nos cursos”, conta Beatriz.

 

Solis estima que o acervo possui mais de 500 itens de valor histórico.

 

Para o casal, a visita às tradições gaúchas também remete ao convívio familiar que vinha se perdendo e se revelou novamente tão importante em tempos de isolamento social. “Ao participar dos cursos e das visitações com os filhos, aquele é um momento vivido em família, que desperta a curiosidade das crianças hoje tão dispersas pela tecnologia e que acabam aprendendo sobre como era a vida dos seus antepassados e também se desenvolvem mais emocionalmente”, reforça Beatriz.

 

Antes das medidas de isolamento social, as visitas ao Recanto do Tio Solis e Acervo Cultural Gaúcho aconteciam aos sábados, das 15 às 18 horas. Segundo Solis, as visitações, o baile domingueiro e as aulas de artesanato e dança oferecidos pelo casal ficarão suspensos até que haja a liberação das autoridades de saúde. Por hora, o trabalho realizado pelo casal pode ser acompanhado nas redes sociais, através da página do Facebook do Recanto.